Título: Para o governo, foi notícia ruim com gosto de notícia boa
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2011, Economia, p. B1

O resultado da inflação de abril, que apontou alta de preços em 12 meses acima do teto da meta de 6,5%, foi uma "notícia ruim com gosto de notícia boa", na avaliação do governo. A parte ruim está creditada à superação do teto no acumulado de 12 meses. Por outro lado, o que está reforçado é o cenário mais provável de que, a partir de abril, os índices mensais mostrarão uma inflação descendente. Nas projeções da área econômica, a alta de preços em maio deve ser ainda mais baixa, mas não o suficiente para trazer imediatamente o IPCA em 12 meses para um resultado inferior a 6,5%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou que a alta dos preços este mês ficará entre 0,45% e 0,50%. "Mais próxima a 0,4%", arriscou um técnico. O efeito é neutro sobre a inflação de 12 meses, porque, em maio do ano passado, os preços tiveram alta de 0,43%. Para junho, as projeções são mais otimistas, amparadas em cálculos de economistas de mercado. Nas tabelas oficiais, estão espelhadas opiniões de analistas que projetam inflação zero e até mesmo uma inflação negativa para o próximo mês, segundo o técnico. Mas também neste caso não deve haver alteração no dado de 12 meses.

O que prevalece, neste momento, é a expectativa - anunciada no relatório de inflação de março - de que a trajetória de queda no acumulado de 12 meses só será observada com maior nitidez a partir de outubro, para encontrar o centro da meta em 2012. Até lá, a tarefa do governo é um intenso trabalho de coordenação das expectativas, porque, de julho a setembro, a inflação dos 12 meses terá alta mais expressiva, podendo chegar a 7%, segundo aliados do governo.

Os argumentos para manter firme o discurso de que a inflação está sob controle serão os mesmos: o efeito das medidas de contenção de crédito, a alta da taxa de juros e o esforço do governo para gerar um superávit nas suas contas deste ano. "A parte mais difícil passou", disse uma fonte, ao lembrar que a inflação está em alta há sete meses. O cenário para os próximos meses é uma queda mensal sucessiva da inflação, porque o governo tem certeza de que a economia está desacelerando. "Isso ficará mais claro nos próximos meses", disse a fonte. Para consolidar esse processo de queda, o Banco Central continuará elevado a taxa de juros, e novas medidas de aperto de crédito podem ser adotadas.

Embora não possa desconhecer que, em 12 meses, a inflação seguirá superando o teto da meta, o governo confirma como vilão o preço das commodities, principalmente agrícolas. Nos últimos nove meses, os preços dos produtos agrícolas subiram cerca de 80%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considera que tecnicamente a meta não foi superada. A explicação é de que o decreto que criou o sistema de metas não considera a segunda casa decimal para o resultado da inflação. O resultado de 12 meses carrega o efeito estatístico, mas é a mola propulsora para novas restrições no crédito e a alta dos juros. "Não é uma corrida de 100 metros. É uma batalha morro acima", como reconheceu um assessor.