Título: É preciso ir ao Paquistão para combater o terror
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2011, Internacional, p. A12

Niamatullah Ibrahim, pesquisador do Afghanistan Watch, de Cabul

O fato de Osama bin Laden ter sido encontrado no Paquistão reforça a posição do Afeganistão de fazer a luta contra o terrorismo cruzar a fronteira. Mas não prejudica a aproximação entre os dois países, uma vez que o presidente Hamid Karzai precisa de Islamabad para alcançar o principal objetivo de sua agenda: negociar a paz com o Taleban.

A análise é do cientista político Niamatullah Ibrahim, pesquisador do Afghanistan Watch, de Cabul. Em entrevista ao Estado, pelo telefone, Ibrahim diz que há uma crescente impaciência no Afeganistão com a falta de resultados da luta contra a insurgência - que só ganha força no país - e também de melhoras na economia e na infraestrutura.

De acordo com o analista, no entanto, essa insatisfação não se traduz em apoio ao Taleban, exceto no sul do país, seu reduto tradicional.

Quais as consequências, para o Afeganistão, da morte de Osama bin Laden?

Do ponto de vista da contrainsurgência, não vejo consequências imediatas. A Al-Qaeda não tem mais uma presença significativa no Afeganistão. Tem entre 100 e 200 indivíduos em ação. O impacto imediato é sobre a liderança política do Taleban. Eles dependem do apoio militar e financeiro da Al-Qaeda.

O fato de ele ter sido encontrado no Paquistão reforça politicamente Hamid Karzai?

Sim, confirma o que há muito não só o governo, mas analistas também vinham dizendo, que o Afeganistão não abriga o terrorismo, e era preciso cruzar a fronteira para combatê-lo. Há uma visão muito disseminada aqui de que o Paquistão é o santuário da Al-Qaeda e o principal problema do Afeganistão.

Karzai não enfrenta oposição política significativa?

Há um crescente descontentamento com o governo, por causa de sua incapacidade de conter o rápido aumento da insurgência. São diversos grupos, que não têm coesão e não formam um bloco de oposição no Parlamento. O principal tema de debate é a atual política de paz e reconciliação do governo com o Taleban. Tem havido manifestações em Cabul lideradas por oposicionistas contrários a essas negociações.

Há um apoio popular ao Taleban por sua resistência contra a ocupação americana?

Há uma crescente insatisfação pela presença americana, mas isso não significa necessariamente apoio ao Taleban. Claro que depende da região. No Cinturão Pashtun, no sul, há mais apoio ao Taleban. Em Cabul e no norte, há uma crescente impaciência com a falta de resultados na contrainsurgência tal como é conduzida pelos americanos, e uma insatisfação com a falta de melhora na economia e na infraestrutura.

Qual a taxa de desemprego?

Não temos uma cifra, mas pode-se observar que é extremamente elevada. O Afeganistão é um país rural e a agricultura não atrai muita atenção. Daí a emigração em massa para o Irã e o Paquistão.

O fato de Bin Laden ter sido encontrado no Paquistão prejudica a ajuda americana ao país?

Os americanos já estavam preocupados com as relações entre os paquistaneses e a Al-Qaeda. Há uma tensão subjacente.