Título: O uso da valorização do real contra a inflação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2011, Economia, p. B2
O governo assumiu nova postura diante da valorização do real: decidiu utilizar o câmbio como mais um instrumento de combate à inflação.
É uma mudança que sobrevém num momento em que o real começa a apresentar uma tendência à desvalorização, depois de ter chegado a R$ 1,570 por dólar, no dia 27 de abril. Isso é importante, mas não permite que o Banco Central (BC) deixe de intervir para conter a valorização, como vem fazendo há meses.
A pequena desvalorização atual do real nada tem de estranho, pois, se neste ano o saldo acumulado de entradas foi de US$ 37,1 bilhões, ante US$ 5 bilhões no mesmo período do ano passado, favorecendo a valorização da moeda nacional, no mês de abril o saldo positivo caiu para US$ 1,541 bilhão, ante uma média mensal de US$ 11,8 bilhões no primeiro trimestre.
Esse recuo tem sua origem na conta financeira, que apresentou em abril saldo negativo de US$ 1,769 bilhão, enquanto a conta comercial tinha saldo positivo de US$ 3,310 bilhões, graças às exportações, que ultrapassaram a média do 1.º trimestre em 17,5%.
A situação do fluxo financeiro é bem diferente. O saldo negativo se explica por uma redução das entradas de 7,1%, em relação à média do trimestre, e de um aumento de 13,5% das saídas, também em relação à média dos três meses anteriores.
O governo teve sucesso na sua política de restrição à entrada de capitais estrangeiros, mas teve de enfrentar importantes desembolsos que criaram o déficit.
Quais serão os efeitos de uma intervenção menor no mercado cambial? A intervenção custou caro ao Banco Central. Segundo seu presidente, representou um custo líquido de carregamento das reservas internacionais de R$ 26,6 bilhões no ano passado. Neste ano, em vista de o BC ter expandido sua intervenção, não se limitando à compra à vista, mas comprando a termo e fazendo swap reverso, esse custo será mais elevado.
Há um aspecto que não pode ser esquecido: a necessidade de entrada de capitais estrangeiros para cobrir o déficit das transações correntes, que os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) não cobrem, se se deduz a remessa de lucros e dividendos.
Um problema sério é que a retração da intervenção oficial no mercado de câmbio poderá se traduzir numa elevação das importações, em detrimento da indústria nacional, com consequências negativas sobre o nível de emprego e o déficit do INSS. Paralelamente, as exportações poderão cair com a queda do preço das commodities. Seria, pois, melhor reduzir os encargos que pesam sobre as empresas.