Título: BCE mantém juro, mas vê ameaça inflacionária
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2011, Economia, p. B11

Taxa básica de juros foi mantida em 1,25%, mas presidente do Banco Central Europeu disse que haverá ''forte vigilância'' contra a inflação

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, alertou para os riscos de alta para a estabilidade dos preços em meio às contínuas pressões inflacionárias, embora tenha evitado dar qualquer indicação clara de que a instituição vai elevar as taxas de juros na reunião do próximo mês.

Em entrevista à imprensa depois da decisão do BCE de manter a taxa básica de juros em 1,25%, Trichet disse apenas que o banco vai "monitorar muito de perto" todos os acontecimentos relacionados aos preços.

Observadores do BCE afirmam que Trichet geralmente sinaliza uma iminente alta nos juros quando fala em "forte vigilância" contra a inflação, o que não esteve presente na reunião de ontem.

Em resposta às primeiras perguntas dos jornalistas, Trichet afirmou que o BCE nunca se compromete antecipadamente em suas decisões sobre taxas de juros. A autoridade, no entanto, alertou para a sustentada pressão provocada pelos preços das commodities, que conduzem a inflação para cima.

Os preços das commodities subiram 11% em euros desde o começo deste ano e 31% desde outubro do ano passado, de acordo com uma pesquisa do instituto HWWI.

Os riscos para a perspectiva de médio prazo para os preços continuam sendo de alta. "Eles se relacionam, em particular, aos aumentos maiores do que os previstos nas tarifas de energia", disse Trichet.

Falando em termos mais gerais, ele observou que o crescimento econômico dos mercados emergentes, sustentado pela ampla liquidez em nível global, pode alimentar ainda mais a alta das commodities.

"A liquidez permanece ampla e pode facilitar a acumulação de pressões inflacionárias", observou o presidente do BCE.

A autoridade monetária também disse que o conselho de governo do banco central não discutiu mudanças na sua estrutura de liquidez na reunião que terminou ontem.

O BCE vai continuar sua política de empréstimos ilimitados em suas operações de uma semana e três meses até junho. Segundo Trichet, as medidas especiais de liquidez serão ajustadas quando for adequado.

Decisão. O BCE manteve a taxa básica de juros em 1,25%, como esperado. A decisão foi tomada apesar das evidências recentes de um firme aumento das pressões inflacionárias nos países da zona do euro.

Apenas um dos 34 analistas consultados pela Dow Jones previa que o BCE elevaria a taxa de juros em 0,25 ponto porcentual.

Após a reunião de 7 de abril, quando o BCE elevou os juros pela primeira vez em quase três anos, Jean-Claude Trichet destacou que a instituição não havia decidido sobre uma série de elevações. No entanto, desde então, membros do conselho diretor do BCE vêm indicando que a elevação de abril não será um caso isolado.

Os observadores do mercado estarão atentos a um aumento no tom retórico do discurso de Trichet, possivelmente falando sobre uma "forte vigilância" em vez de apenas "vigilância". / DOW JONES NEWSWIRES

Sob pressão

JEAN-CLAUDE TRICHET PRESIDENTE DO BCE

"O BCE vai monitorar muito de perto todos os acontecimentos relacionados aos preços"

"Eles (os riscos de alta dos preços) se relacionam, em particular, aos aumentos maiores do que os previstos nas tarifas de energia"

"A liquidez permanece ampla e pode facilitar a acumulação de pressões inflacionárias"

 Tópicos: , Economia, Versão impressa