Título: Al-Qaeda se moderniza e busca tecnologias de recrutamento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2011, Internacional, p. A12
Analistas afirmam que a morte de Bin Laden é simbólica e não afeta a capacidade operacional da organização terrorista
A Al-Qaeda, que antes do 11 de Setembro se concentrava apenas ao redor do núcleo de Osama bin Laden no Afeganistão e Paquistão, transformou-se na última década, com uma expansão para outras partes do mundo, do Iêmen aos EUA. As formas de recrutamento e difusão da mensagem da organização foram alteradas e novas tecnologias criadas no Ocidente são utilizadas cada vez mais pelo grupo islâmico.
Apesar de autoridades americanas dizerem que documentos encontrados no Paquistão indicam que Bin Laden ainda estava no comando, a morte do líder terrorista, na avaliação de analistas, tem um enorme caráter simbólico, mas pouco afetará a Al-Qaeda dez anos depois dos atentados. Fenômenos como o fortalecimento da organização em países como Iêmen são bem anteriores à operação dos Seals na semana passada. E novos líderes com pouca ligação a Bin Laden, como Anwar al-Awlaki, ganharam mais influência entre os jihadistas nos últimos três anos.
Awlaki é a estrelas de vídeos em inglês no YouTube e o presidente Barack Obama autorizou no início deste ano uma ação para matá-lo - Awlaki vive escondido no território iemenita. A revista Inspire, publicada pela rede terrorista na internet, dá uma série de dicas sobre como organizar um atentado e até mesmo como construir bombas. Algumas reportagens indicam a estratégia da organização. Em vez de grandes atentados são "melhores operações menores e mais frequentes", disse a revista.
Os principais ataques terroristas recentes tiveram alguma forma de ligação com a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP), uma espécie de franquia da organização de Bin Laden que mantém as suas bases no território iemenita. O nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, que tentou explodir um avião em Detroit, no Natal de 2009, admitiu ter recebido instruções e os explosivos da AQAP no Iêmen. O major palestino-americano Nidal Malik Hasan, responsável pela morte de 13 pessoas em uma base militar no Texas, mantinha laços com a rede terrorista no território iemenita. E o paquistanês Faisal Shahzad, autor da tentativa de detonar um carro-bomba em Times Square há um ano, disse ter sido inspirado por Awlaki, apesar de seu treinamento ter ocorrido no Paquistão.
No Oriente Médio, o braço da organização no Iraque, que tem autonomia em relação ao núcleo de Bin Laden e também à AQAP, tem sido o mais violento em todo o mundo, apesar de enfraquecido nos últimos quatro anos. Scott Stewart, da consultoria de risco político Stratfor, afirma que "o núcleo da Al-Qaeda não foi apenas eclipsado no campo de batalha, mas também passou a ser ofuscado ideologicamente". "Grupos como a AQAP passaram a comandar o pensamento jihadista e pedem aos muçulmanos para assumirem uma resistência sem líder, sem a necessidade de se filiar a grupos. Percebemos que o núcleo da Al-Qaeda passou a seguir os líderes da AQAP, que tem ditado as novas diretrizes."
Nem todos concordam com esta posição de fortalecimento da rede no Iêmen e em outros países. Em artigo nesta semana na Foreign Affairs, Daniel Byman, do Brookings Institute, disse que "Bin Laden liderou a Al-Qaeda nos seus triunfos e derrotas, e seus sucessores enfrentarão dificuldades para manter a organização relevante".
PARA LEMBRAR
Um exemplo da descentralização da Al-Qaeda, segundo analistas, é a atuação de Khalid Sheik Mohamed, atualmente preso na base de Guantánamo. Apesar de nunca ter tido o peso de Bin Laden, especialistas e membros da inteligência americana lembram que ele é o principal mentor do 11 de Setembro e de um atentado anterior contra o World Trade Center, em 1993.