Título: Os muitos obstáculos do Brasil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2011, Economia, p. B15

Muitos chineses saem do cinema convencidos de que o filme é obra de uma mente brilhante da publicidade oficial brasileira, algo compreensível em um país onde o Estado controla e censura o conteúdo de tudo o que chega às telas e no qual ainda existe um Ministério da Propaganda.

Mesmo concebido no estúdio americano Blue Sky, a animação Rio se revelou um ótima promotora do Brasil na distante China. O filme teve a segunda maior bilheteria do país no período que foi de sua estreia, no dia 8 de abril, a 1.º de maio, quando arrecadou o equivalente a US$ 16 milhões.

Mas sua popularidade não parece suficiente para elevar de maneira significativa a disposição dos chineses de superar os obstáculos que os separam do Brasil.

A falta de segurança, a distância, o preço, os voos com conexões demoradas e a dificuldade de obtenção de vistos são os fatores apontados por agentes para explicar o baixo número de turistas chineses no País.

Apesar disso, algumas empresas registraram aumento na procura por viagens ao Brasil nos últimos meses e acreditam que a demanda deverá crescer nos próximos anos.

Wuan Zhang, porta-voz da Shanghai Spring International Travel Service, afirma que sua empresa já vendeu 300 pacotes para o Brasil desde o início de 2011, comparados a cerca de 50 em 2010. Segundo ele, "uma das principais razões para o aumento da demanda foi a promoção do turismo realizada pelo Brasil na Expo Xangai no ano passado". O evento recebeu cerca de 70 milhões de visitantes, quase todos chineses.

A Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 são dois eventos que poderão impulsionar as viagens dos chineses para o Brasil. Eles são loucos por futebol e os Jogos de Pequim (2008) colocaram o país na liderança de medalhas olímpicas.

Por enquanto, o Brasil está longe de ser um destino preferencial dos viajantes locais, que preferem fazer turismo na Ásia, região mais próxima e mais barata. Hong Kong ocupa o topo da lista e seduz os vizinhos pela oferta de produtos de luxo, eletrônicos e cosméticos, vendidos a preços inferiores aos da China continental em razão da isenção tributária.

Segundo o estudo do banco UBS, cerca de 40% dos turistas chineses vão para a antiga colônia britânica, onde são chamados de "caixas automáticos ambulantes" em razão de sua disposição para as compras.

Jogatina. Macau e seus cassinos estão em segundo lugar. Os chineses são jogadores inveterados e sua disposição para altas apostas levou a ilha colonizada por portugueses a ultrapassar Las Vegas em termos de receita. Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Cingapura e Malásia são os outros países da região que completam a lista.

França e Itália foram os dois países não asiáticos que entraram na lista dos dez principais destinos do turismo chinês no ano passado.