Título: Greve para Grécia e país negocia mais um socorro
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2011, Economia, p. B10
Manifestações ocorreram no dia em que técnicos da UE, do BCE e do FMI chegaram ao país para avaliar repasse de 12 bilhões de euros
Petros Giannakouris/APAtaque. Manifestante foge enquanto outros são cercados por policiais durante protestos A tensão social retornou ontem à Grécia. Uma greve geral convocada parou o centro de Atenas, onde milhares de trabalhadores protestaram e entraram em choque com a polícia. A manifestação se antecipa a um eventual novo programa de austeridade que possa vir a ser exigido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um novo empréstimo, desta vez de cerca de ? 50 bilhões. A decisão, entretanto, não deve sair antes de junho.
As manifestações ocorreram no dia em que técnicos da "trinca" - UE, Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) - chegaram ao país para avaliar as contas públicas, antes da liberação de ? 15 bilhões, quinta parcela de um total de ? 110 bilhões, montante do primeiro plano de socorro concedido em maio de 2010.
Segundo estimativas da polícia grega, cerca de 20 mil trabalhadores participaram do maior protesto programado para o dia de greve geral. A mobilização paralisou parcialmente as atividades no centro de Atenas e perturbou os transportes públicos. Um balanço parcial divulgado pelo Ministério do Interior no fim da tarde de ontem indicou que 27 pessoas ficaram feridas - uma das quais em estado grave - ou tiveram intoxicações por gás lacrimogêneo durante confrontos com a polícia.
Ainda no mês de maio, o Parlamento grego deve votar um novo arsenal de medidas que corta mais uma vez os gastos públicos em ? 23 bilhões até 2013, em mais uma tentativa de reduzir o déficit público e a relação dívida/ Produto Interno Bruto (PIB), que já chega a 150%.
Os sindicalistas e trabalhadores também se antecipam às supostas negociações entre o governo de Georges Papandreou e a União Europeia para um eventual segundo empréstimo ao país. O rumor vem ganhando força desde a última sexta-feira, quando ministros de Economia e Finanças do bloco fizeram uma reunião de emergência em Luxemburgo para discutir a situação grega, quase falimentar.
De acordo com estimativas divulgadas ontem pelo Royal Bank of Scotland (RBS), a Grécia precisará de mais ? 50 bilhões para saldar obrigações do Tesouro com vencimento em 2012 e 2013. Sem o eventual empréstimo, afirmam analistas, o governo grego não escapará da renegociação das dívidas com seus credores, já que o país não deve conseguir retornar ao mercado financeiro para contrair empréstimos antes de 2013.
Fatura. Essa perspectiva exacerba os sindicalistas gregos. "Os assalariados, os aposentados e os desempregados são os únicos a pagar a fatura", reclamou Yuannis Panagopoulos, secretário-geral da central sindical GSEE, a maior do país. "Os abastados, que são os principais responsáveis pela crise, continuam a enriquecer." Na próxima segunda-feira, ministros de Economia e Finanças da Europa - membros do grupo Ecofin - se reunirão em Bruxelas, e deverão voltar a discutir as alternativas de socorro à Grécia.
Uma decisão, porém, não será tomada antes do mês de junho, segundo os jornais Financial Times, de Londres, e Les Echos, de Paris. Resistente a um novo pacote, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pediu na terça-feira que a Europa aguarde o resultado da missão da UE, do BCE e do FMI em Atenas para tomar uma decisão. "Eu espero os resultados desta missão. Creio que não poderemos tirar conclusões antes que conheçamos os resultados", afirmou Merkel.
Enquanto o bloco europeu discute um novo programa de socorro, alguns economistas e analistas políticos defendem a renegociação da dívida grega, sob o pretexto de que ela dividiria com investidores privados o custo da recuperação das finanças do país. "A renegociação da dívida, de uma forma ou de outra, será inevitável", diz Benjamin Coriat, economista da Universidade Paris XIII./COM ASSOCIATED PRESS