Título: Islamabad revela nome de chefe local da CIA
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2011, Internacional, p. A10

Ação de agência de inteligência do Paquistão evidencia divergências entre aliados após ação em Abbottabad

Pela segunda vez em cinco meses, as autoridades paquistanesas deixaram a CIA numa situação complicada, revelando o nome do chefe do escritório da agência em Islamabad para a mídia paquistanesa, em um esforço deliberado para dificultar o trabalho da agência de espionagem americana depois da ação que matou Osama bin Laden, segundo afirmam autoridades em Washington.

A publicação do nome do oficial demonstrou que, desde o ataque, o relacionamento está se tornando bastante tenso entre a CIA e a ISI, agência secreta do Paquistão. E, ao que parece, ela teve por objetivo mostrar a influência que os paquistaneses mantêm sobre os interesses americanos no país.

A agência de espionagem paquistanesa deu o nome do chefe do escritório da CIA ao jornal conservador The Nation, afirmam autoridades paquistanesas e americanas. O nome foi publicado com erros, mas próximo de sua pronúncia. A ISI regularmente planta notícias na mídia paquistanesa e sabe-se que ela mantém alguns jornalistas em sua folha de pagamento. Em dezembro, autoridades americanas disseram que o esconderijo do chefe do escritório em Islamabad fora deliberadamente revelado pela ISI.

Posteriormente, um advogado paquistanês representando a família de vítimas de um ataque de um drone americano contra militantes incluiu o nome dele numa queixa à polícia. Em decorrência dessa exposição, o agente da CIA recebeu ameaças de morte e rapidamente deixou o país.

O relacionamento entre o chefe do escritório da CIA em Islamabad e o chefe da ISI, general Ahmed Shuja Pasha foi descrito como particularmente "cáustico" por pessoas que participaram de suas reuniões.

O assassinato de Bin Laden e as insinuações por parte do governo Obama de que membros da ISI poderiam conhecer o paradeiro do líder da Al-Qaeda e ter-lhe dado suporte enfureceram Pasha.O general e o comandante do Exército paquistanês, general Ashfaq Parvez Kayani, sentiram-se humilhados pelo fato de os EUA não terem, propositalmente, alertado o Paquistão do assalto.

De acordo com fontes ligadas aos generais, o comandante do Exército paquistanês criticou o governo civil por não fornecer diretrizes aos militares na área de contraterrorismo e jamais perguntar sobre o progresso que o Exército estava fazendo. Kayani teria censurado duramente os americanos pelo ataque, dizendo que agora eles terão "filmes de Hollywood para a próxima década".

Muitos esperavam que o premiê paquistanês, Yousuf Raza Gilani, usasse seu discurso de ontem para fazer um relato sobre o que o Paquistão sabia sobre a presença de Bin Laden no país. Mas, em vez disso, ele preferiu falar sobre como esse ataque foi uma violação da soberania paquistanesa, advertindo que uma repetição de um ato do tipo, para capturar outros terroristas conhecidos, poderá ter uma resposta com "força total".

Ele defendeu a ISI como a "melhor agência do mundo", descrevendo-a como "ativo nacional" que fez mais do que qualquer outra agência de inteligência para enfrentar a Al-Qaeda. Depois do discurso, o jornalista paquistanês, Mohammed Ziauddin, disse que o premiê não respondeu a questões cruciais. "As pessoas têm de saber dos fatos reais, não podem ser informadas superficialmente." / NYT