Título: Grécia vai precisar de até 30 bilhões
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2011, Economia, p. B8

Quase um ano depois de receber socorro de 110 bilhões de euros e se submeter a um regime de austeridade, país volta a necessitar de recursos

Às vésperas de completar um ano sob o regime de austeridade imposto pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um socorro de ? 110 bilhões, a Grécia deve ter de recorrer mais uma vez à ajuda externa.

O cenário teria sido acertado no fim de semana por ministros de Economia e Finanças da zona do euro, que planejariam um novo empréstimo de até ? 30 bilhões a Atenas. A hipótese, entretanto, não parece mais convencer as agências de rating e os mercados, que apostam na reestruturação da dívida. Ontem, a Standard & Poor"s anunciou novo rebaixamento da dívida grega e a Moody"s e a Fitch podem seguir o mesmo caminho (ler abaixo).

A possibilidade de um empréstimo suplementar à Grécia foi levantada na sexta-feira, quando os ministros da zona do euro fizeram reunião extraordinária em Luxemburgo. Daí, passou-se a especular sobre um programa de ? 25 bilhões a ? 30 bilhões, coordenado pelo FMI, pela UE e pelo Banco Central Europeu, com recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef).

O montante é semelhante ao total de dívidas com vencimentos em 2012 e 2013 ainda não cobertas pelo primeiro plano.

A "trinca", como o grupo de técnicos das três instituições - UE, BCE e FMI - é conhecido, vem realizando a revisão trimestral dos dados macroeconômicos da Grécia, antes da liberação da quinta parcela do primeiro empréstimo, de ? 12 bilhões.

No fim de semana, Jean-Claude Juncker, coordenador do Eurogrupo - o fórum de ministros -, admitiu que a Grécia poderia passar por "um programa de ajuste suplementar". Esse programa seria a contrapartida de novo empréstimo. Outra medida seria reprogramar o reembolso de ? 80 bilhões do primeiro socorro, que teria prazos alongados.

Na Alemanha, onde a resistência a um novo pacote de socorro é maior em razão das divisões internas do governo de coalizão de Angela Merkel, a revista Der Spiegel chegou a anunciar no fim de semana que a saída da Grécia da zona do euro também era tema de debates. A hipótese, entretanto, foi desmentida pelo governo grego. No domingo, o primeiro-ministro, Georges Papandreou, pediu que o mercado financeiro pare de apostar contra seu país.

A eventual revisão dos termos do plano de socorro de ? 110 bilhões concedido à Grécia terá implicações imediatas na Irlanda e em Portugal, onde um resgate vem sendo negociado. Na Irlanda, o jornal Irish Mail afirmou que o governo já se prepara para renegociar os termos ao pacote de auxílio ao país, de ? 85 bilhões, concedido em novembro. A maior preocupação do país diz respeito ao aumento da relação dívida-PIB, que deve chegar a 125% em 2013, segundo o FMI.

Pacote português. Ainda ontem, uma fonte do governo da Finlândia anunciou que o país deve apoiar o pacote de socorro para Portugal nas próximas 48 horas, ignorando a oposição dos nacionalistas eurocéticos que negociam um papel na nova coalização governamental.

Segundo a fonte, os partidos que apoiaram a ratificação finlandesa de fundos europeus para os mecanismos de emergência da UE para países em dificuldades na zona do euro tentam obter um mandato nesse sentido junto à Grande Comissão, o órgão do Parlamento finlandês encarregado das questões ligadas à UE, que vai se reunir amanhã.

Eles "podem fazer isso sozinhos", disse o funcionário, deixando de lado, portanto, o partido de extrema direita Verdadeiros Finlandeses, que obteve 20% dos votos nas eleições gerais do mês passado com uma plataforma que exigia que a Finlândia, um dos países mais ricos da zona do euro, retirasse o apoio à ajuda financeira para Portugal. / COM DOW JONES NEWSWIRES

Cenário ruim

10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) foi o déficit público da Grécia em 2010

9,4% era para ser déficit público em relação ao PIB estimado até aqui

150% é a relação dívida/PIB do país

110 bilhões de euros foi pacote de ajuda fechado a um ano pelo governo da Grécia com a União Europeia e com o Fundo Monetário Internacional em troca da adoção pelo país de um regime de austeridade