Título: Microsoft paga US$ 8,5 bi pelo Skype
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2011, Negócios, p. B16

Na maior aquisição de sua história, empresa busca reverter o espaço perdido para o Google e a Apple no mercado de comunicações

Na maior aquisição de seus 36 anos de história, a Microsoft anunciou ontem que pagará US$ 8,5 bilhões pelo Skype, com o objetivo de fortalecer a presença da empresa no setor de comunicações, no qual tem perdido espaço nos últimos anos para as rivais Google e Apple.

Susana Bates/ReutersUnião. Ballmer (E), da Microsoft, e Bates, do Skype: WindowsPhone e Xbox poderão ter serviço de comunicação Os investidores não receberam com otimismo o anúncio. Eles avaliaram que o preço a ser pago está bem acima do valor do Skype. As ações da Microsoft caíram 1,4% na Bolsa de Valores de Nova York.

Com a queda, a empresa de Bill Gates passou a valer menos do que a General Electric e pode ser superada também pela IBM.

Com dinheiro sobrando em caixa, a Microsoft não deve precisar se endividar para concluir a compra, que ainda depende da autorização de autoridades reguladoras. Além disso, a maior parte do dinheiro da companhia está no exterior.

Como o Skype fica baseado em Luxemburgo, não será necessário pagar os elevados impostos americanos pela transação. No ano passado, o Skype teve um faturamento de US$ 860 milhões, mas registrou perdas de US$ 7 milhões. Desta forma, o retorno para a Microsoft poderia demorar anos.

Presença. A estratégia, segundo analistas, não seria ganhar dinheiro no curto prazo, mas fortalecer a empresa na área de comunicações. O Skype, que oferece serviço de vídeo e voz para ligações via computador e mesmo celulares, possuiu 145 milhões de usuários por mês, com cerca de 20 milhões a 30 milhões a qualquer momento do dia.

Esse número é inferior aos 330 milhões de usuários mensais, sendo 40 milhões ao mesmo tempo, do MSN Messenger, da própria Microsoft, que lidera o mercado de comunicação em tempo real na internet. "A diferença é que 8 milhões de pessoas pagam para fazer ligações pelo Skype, já que a empresa integra conexão por telefone", escreveu o especialista Peter Bright no site da revista Wired.

Ele destacou também a presença internacional do Skype. Os principais concorrentes do serviço de voz são o Google Talk e o Facebook. As duas empresas também demonstraram interesse em comprar o Skype nas últimas semanas, mas acabaram sendo superadas pela Microsoft.

Fundado em 2003, o Skype foi vendido em 2005 para a eBay por US$ 2,6 bilhões. O site de compras queria usar o serviço como ferramenta de comunicação entre seus usuários, mas a estratégia não deu certo. Quatro anos mais tarde, um grupo de investidores adquiriu a empresa por US$ 2,75 bilhões.

"A aquisição permitirá à Microsoft ser mais ambiciosa e fazer mais coisas", disse Steve Ballmer, presidente da Microsoft. Tony Bates, atual presidente do Skype, deve liderar uma nova divisão dentro da Microsoft. O Skype, segundo Ballmer, deverá ser usado em diversos produtos da empresa, como o videogame Xbox, o Windows Phone e a aplicação Lync, utilizada em comunicação corporativa. As versões do Skype para produtos Apple serão mantidas.

O analista Paul Gallant, da MF Global, afirmou à agência AP que os reguladores devem considerar a aquisição como benéfica aos consumidores, por ajudar a Microsoft a competir com o Google.

Celular. A Microsoft também deverá tentar mesclar o Skype com a sua plataforma Windows Phone 7, que está atrás do Android, do Google, e da Apple no setor de celulares. Mas, em breve, estará presente nos aparelhos fabricados pela Nokia.

O analista Craig Moffett, da Sanford Bernstein & Co, disse à agência de notícias Bloomberg que a compra do Skype pela Microsoft pode irritar as operadores AT&T e Verizon, nos EUA. Ambas bloqueiam o uso da aplicação em suas redes, apesar de não terem como impedir que os usuários façam ligações via Skype de seus celulares quando possuem sinal de Wi-Fi.

Os fundadores do Skype são os empreendedores europeus Janus Friis e Niklas Zennström, que também foram responsáveis pela criação do Kazaa. O serviço de troca de arquivos pela internet é apontado, ao lado do Napster, como um dos responsáveis pela crise do mercado de música na década passada.