Título: Montadoras não conseguem avaliar impacto das restrições
Autor: Landim, Raquel ; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2011, Economia, p. B1

Abeiva acredita que as barreiras às importações deverão atingir apenas veículos fabricados na Argentina

As montadoras brasileiras ainda não conseguem avaliar o impacto que as medidas de restrição às importações podem causar nos negócios. O comércio com a Argentina certamente será o mais afetado, pois é de lá que chega quase metade das importações de veículos e é para o país vizinho que vai a maior parte dos modelos exportados.

Todas as grandes montadoras têm fábricas no Brasil e na Argentina, que complementam as linhas de produtos. A Toyota informou que ontem tinha vários veículos destinados ao mercado brasileiro parados na alfândega, mas não citou números. A empresa traz de sua fábrica argentina a picape Hilux e o utilitário-esportivo SW4.

De janeiro a abril deste ano, o Brasil importou 245.949 veículos, 28,5% mais que em igual período do ano passado. O volume representa 22,1% do total de licenciamentos no período. No ano passado, a participação foi de 18,8% e, em 2005, de somente 5,1%.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou não ter tido acesso, até o início da noite de ontem, ao teor da medida do governo brasileiro, apesar de fontes do governo afirmarem que o presidente da entidade, Cledorvino Belini, foi informado sobre o assunto.

A Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos (Abeiva) não quis se pronunciar. Na visão da entidade, o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior deve confirmar as sanções às importações somente para carros montados na Argentina. Com isso, as importações de veículos procedentes de outros países, foco da maior parte dos associados da entidade, não devem ser prejudicadas.

Paciência. Um executivo da indústria automobilística disse acreditar que a retaliação tem como foco a Argentina. Em sua opinião, as licenças de importação de outros países serão liberadas com rapidez.

"É ruim entrar em conflito, pois temos investimentos nos dois países. Por outro lado, o governo brasileiro não pode ficar silencioso quando outro governo começa a brecar seus produtos", afirmou.

"Ninguém pode culpar o Brasil de não ter tido paciência", completou o executivo, ao referir-se às constantes batalhas comerciais travadas entre os dois parceiros do Mercosul.

A última delas envolve máquinas agrícolas. Centenas delas estão paradas na fronteira, depois que o governo da Argentina estabeleceu licenças de importação que levam até 60 dias para serem liberadas.

Mesmo com a avaliação de que o alvo principal das medidas é a Argentina, as montadoras, internamente, devem torcer para que as barreiras cheguem também aos veículos da Coreia - segundo na lista de mais importados e alvo de reclamação da Anfavea - e da China, que vem ampliando sua participação nas vendas locais de automóveis nos últimos dois anos.