Título: Grécia pode ter mais prazo para pagar
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2011, Economia, p. B11
Executivos do FMI admitem renegociar as datas de vencimento do primeiro empréstimo, de 110 bilhões de euros, previsto para ser pago até 2015
A expectativa de que o governo da Grécia seja beneficiado por um novo pacote de socorro ou pela revisão do empréstimo de ? 110 bilhões concedido há um ano aumentou ontem.
Em Washington, executivos do Fundo Monetário Internacional (FMI), parceiro da União Europeia nos planos de resgate à Irlanda e em negociações com Portugal, mostraram-se dispostos a renegociar os prazos de vencimento do primeiro empréstimo, previsto para ser reembolsado até 2015.
A revelação foi feita ontem, em Washington, na apresentação do relatório "Perspectivas Econômicas da Europa". Segundo a diretora de Relações Exteriores do FMI, Caroline Atkinson, o fundo está pronto a flexibilizar as datas do acordo de maio de 2010. A estratégia seria converter o acordo em Mecanismo de Crédito Estendido - Extended Credit Facility (ECF), na sigla em inglês -, instrumento que permite que o prazo de pagamento de uma ajuda seja prolongado por países em crise persistente.
"Um ECF daria mais tempo à Grécia", disse a executiva, lembrando que o fundo já havia manifestado a disposição em novembro. "O interesse da conversão é dar mais tempo (ao devedor), já que não é necessário começar a reembolsar o montante devido tão cedo." Em novembro, a Grécia já havia consultado o FMI sobre a possibilidade de aderir ao mecanismo, mas seu Conselho de Administração, com 24 países e blocos, não aceitou. Com a eventual revisão, o prazo poderia chegar a 2020.
Apesar de renegociar o vencimento da dívida, o ECF não implica a revisão da taxa de juros. Não bastasse o prazo curto de reembolso, o ágio elevado - superior a 5% - é uma das queixas de economistas gregos especializados em contas públicas.
Além da renegociação, o FMI também se mostrou aberto a participar de um eventual novo empréstimo à Grécia, estimado em ? 50 bilhões pelo Royal Bank of Scotland (RBS) nesta semana. O valor seria usado para cobrir o vencimento dos títulos da dívida soberana com vencimentos entre 2012 e 2013, não cobertos pelo primeiro pacote de socorro.
Até aqui, o governo do primeiro-ministro Georges Papandreou promete voltar a refinanciar suas obrigações no mercado financeiro, com juros de mercado. O problema é que os investidores não aceitam ágio inferior a 10%, em razão do alto risco de calote. E com juros tão altos cresce a possibilidade de falência.
Dinheiro. Para Antonio Borges, diretor do Departamento Europeu do FMI, o Fundo pode participar de uma segunda fase de socorro se for convidado. Pelas normas estabelecidas por Bruxelas, a União Europeia - por meio do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) - participa com dois terços, enquanto o terço restante fica a cargo do FMI.
"Cabe aos gregos tomar a iniciativa, e até aqui nós não fomos contatados", garantiu o diretor. "Por princípio, o FMI está pronto." Borges, porém, assegurou que a Grécia não está insolvente.
"Todos os programas do FMI são baseados na sustentabilidade da dívida. Logo, já que um programa está implantado, isso quer dizer que, do ponto de vista do FMI, a dívida grega é sustentável." Desde a última sexta-feira, executivos da UE, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI tratam da eventualidade do novo empréstimo a Atenas. Segundo o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, o plano só será concedido sob condição de novas medidas de austeridade. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS