Título: Corte de gasto por decisão do governo deve afetar investimento da Petrobrás
Autor: Tereza, Irany ; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2011, Economia, p. B1

Estatal pode manter inalterado em US$ 224 bilhões seu plano de investimentos até 2015, apesar do lucro recorde no trimestre, de R$ 10,9 bilhões

A Petrobrás pode, por determinação do governo, manter inalterado em US$ 224 bilhões o seu plano de investimentos até 2015, contrariando expectativas de analistas do setor que previam um aumento para, no mínimo, US$ 268 bilhões. É uma forma de tentar reduzir despesas, alinhando a estatal à estratégia de corte de gastos públicos.

O novo plano estratégico da companhia seria divulgado ontem, com o balanço financeiro de janeiro a março, que apontou lucro recorde trimestral de R$ 10,985 bilhões. Mas o conselho de administração da estatal não chegou a um consenso sobre a proposta, que será novamente discutida na próxima semana.

O valor para o período de 2011 a 2015 pode ser o mesmo do plano de 2010-2014, mantendo a média anual, mesmo com novos projetos. Isso significa que o governo cobra da Petrobrás redução de custos nos empreendimentos. Toda a diretoria da Petrobrás viajou ontem para São Paulo, onde estava o ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do conselho, para detalhar os resultados da estatal.

O lucro, que veio acima das projeções do mercado financeiro, representou alta de 42% em relação ao mesmo período do ano passado e foi atribuído a quatro fatores básicos: aumento do preço do petróleo nacional (29% em dólares); aumento da produção de petróleo e gás, com a contribuição dos campos do pré-sal; elevação das vendas de gás natural; e melhor resultado financeiro (R$ 2,723 bilhões), decorrente dos ganhos cambiais sobre o endividamento, refletindo a valorização do real ante o dólar.

Somente no primeiro trimestre deste ano, os investimentos da Petrobrás totalizaram R$ 15,871 bilhões, com destaque para os recursos destinados às atividades de exploração, produção e refino de petróleo e gás que, juntas, responderam por 83% do volume total investido.

A área de exploração e produção consumirá a maior parte dos recursos do plano estratégico. O plano atual prevê a aplicação de US$ 118 bilhões ao segmento, mais da metade do volume total previsto para a empresa.

Vendas. O volume total de vendas internas da Petrobrás subiu 7% no primeiro trimestre, em relação a igual período de 2010. Os números consideram a venda dos derivados, incluindo diesel, gasolina e nafta, além de gás natural e álcoois e nitrogenados. As vendas de diesel, principal derivado vendido pela estatal, cresceram 8,6% no primeiro trimestre ante mesmo período de 2010, para 796 mil barris diários.

O aumento dos negócios no mercado doméstico ocorreu principalmente pela menor participação de outros competidores, destacou a companhia. Já as vendas de gasolina cresceram 7,1%, o que a empresa atribuiu à "vantagem do preço da gasolina em relação ao etanol na maior parte dos Estados e crescimento da frota de veículos".

As importações de gasolina fizeram com que a balança comercial da Petrobrás, que era superavitária, tivesse déficit de US$ 656 milhões no primeiro trimestre, ante mesmo período de 2010. O saldo foi negativo em 38 mil barris por dia, ante saldo positivo de 126 mil barris/dia nos três primeiros meses do ano passado.

No mercado interno, o reajuste de derivados como o querosene de aviação e a nafta, respectivamente em 20% e 13% no primeiro trimestre, contribuiu para elevar o valor médio do barril de derivados vendido no País.