Título: Alemanha e França puxam PIB europeu
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2011, Economia, p. B10

Apesar da crise em alguns países, a Europa acelera expansão; PIB alemão cresce 4,8% e francês, 2,2%; Grécia e Portugal retraem

Os dois maiores motores da economia da União Europeia, a Alemanha e França, anunciaram ontem dados de crescimento trimestral e anualizado acima de todos os prognósticos apresentados até agora pelos analistas. Os dois países tiveram aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,5% e de 1%, respectivamente, entre janeiro e março, o que indica índices anualizados surpreendentes: 4,8% no caso alemão, 2,2% no francês.

As cifras mostram duas "europas": uma que recobra o desenvolvimento, enquanto outra afunda na crise das dívidas soberanas.

Os dados foram divulgados pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat), com sede em Bruxelas. E o destaque é claro: a Alemanha.

No primeiro trimestre, a economia germânica teve seu melhor desempenho desde o início de 2008, graças ao aumento da demanda interior. Os porcentuais alcançados entre janeiro e março só eram esperados para 2013, segundo o ministro das Finanças, Wolfgang Stäuble.

Especialistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires estimavam a performance em 0,9%. Segundo o Escritório Federal de Estatísticas (Startseit), o crescimento no quarto trimestre de 2010, de apenas 0,4%, "teve uma influência positiva sobre o primeiro trimestre de 2011".

França. Um cenário também inesperado foi registrado na França, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee).

Com 1% no primeiro quarto do ano, a economia francesa registrou sua melhor performance em cinco anos. O porcentual reforça a perspectiva de que o país deva chegar ao fim de 2011 com crescimento anualizado superior a 2%, frente a 1,4% em 2010, mesmo com plano de austeridade fiscal em curso.

De acordo com Mathieu Plane, analista do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), o índice foi impulsionado pelo consumo doméstico mais dinâmico do que o previsto. "É a mais forte taxa de crescimento desde o segundo trimestre de 2006", comemorou a ministra da Economia, Christine Lagarde.

Diante do cenário positivo, a executiva tratou de reduzir expectativas para o segundo período do ano. "Será natural que fosse um pouco menos forte no segundo trimestre. A cifra é muito elevada no primeiro trimestre, com alguns dos melhores indicadores em 30 anos", disse a ministra francesa, lembrando a produção industrial, com crescimento de 3,4% no primeiro período do ano.

Já o Reino Unido, terceira maior economia da União Europeia, voltou a decepcionar. No segundo trimestre, o crescimento chegou a um modesto 0,5%. No conjunto de 12 meses, o índice foi de 1,8%.

Desempenho pífio também registraram o quarto e o quinto maiores mercados da Europa, Itália e Espanha. No trimestre, a economia italiana cresceu apenas 0,1%, chegando a 1% no total anualizado.

Na Espanha, o resultado parecido: 0,3% entre janeiro e março e 0,8% no ano.

Duas europas. As estatísticas do Eurostat também comprovam a tese de que há duas europas em termos econômicos. A primeira, movida por Alemanha e França, mas também seguida por Holanda e Bélgica e países de menor expressão, como Estônia, Lituânia e Finlândia, sai-se bem.

Já Grécia e Portugal, em plena crise das dívidas soberanas, penam na recessão. Em termos anualizados, os dados do Eurostat apontam -4,8% para a economia grega e -0,7% para a portuguesa. "A retomada é marcada por contrastes. Alemanha e França a lideram, enquanto Espanha e Itália, duas outras grandes economias da zona euro, penam", avaliam analistas do banco BNP Paribas.

No conjunto da União Europeia (27 países) e da zona do euro (17 países que adotam a moeda única), o crescimento médio foi idêntico: 0,8% no primeiro trimestre e 2,5% nos últimos 12 meses.