Título: Alta internacional mantém pressão sobre Petrobrás
Autor: Lima, Kelly ; Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2011, Economia, p. B4

Lucro de R$ 10,9 bilhões e alta de 2% nas ações não evitam que estatal negocie reajuste nos [br]preços dos combustíveis

O lucro recorde de R$ 10,985 bilhões no primeiro trimestre, divulgado na sexta-feira, e a alta em torno de 2% em suas ações no pregão de ontem foram insuficientes para tirar das costas da Petrobrás as cobranças sobre a defasagem de preços da gasolina e do diesel em relação ao mercado internacional.

Ontem, enquanto o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, tentava ressaltar a importância de levar ao consumidor brasileiro a estabilidade de preços, o diretor da área de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, admitia que a empresa negocia com o governo soluções que permitam o reajuste. "Conversas não param nunca, mas não sei se é possível", disse Costa.

A área de Abastecimento foi a mais atingida pela defasagem dos preços internos do diesel e da gasolina e a estatal só conseguiu apresentar bom resultado nos três primeiros meses do ano, estimulada pela valorização do dólar - que reduziu em R$ 2 bilhões suas dívidas - e pelo repasse da alta internacional a outros produtos, como querosene de aviação e nafta.

Segundo o gerente executivo de Abastecimento, Arlindo Moreira Filho, o setor teve de comprar o barril com valores até 40% maiores que o preço de venda. Isso fez com que a área de Abastecimento amargasse prejuízo de R$ 95 milhões ante lucro de R$ 1,1 bilhão nos primeiros três meses de 2010.

A situação tende a se agravar ainda mais se não houver o reajuste, avalia o analista do Banco do Brasil Nelson Rodrigues de Matos. Além da valorização de 40% no preço do barril de petróleo de janeiro para cá - que faz com que a gasolina e o diesel sejam vendidos no mercado doméstico com defasagem de 22% e 11% respectivamente - a Petrobrás importou 2,5 milhões de barris entre abril e maio para atender ao aumento da demanda estimulado pela migração de consumidores do etanol.

Cide. Entre as alternativas discutidas com o governo está a redução do porcentual da Contribuição para Intervenção de Domínio Econômico (Cide), como já foi feito no passado. Na prática, a Cide foi criada para ser usada como uma espécie de colchão responsável por amortecer eventuais aumentos ou quedas bruscas no preço do combustível e evitar impacto na inflação.

"Mas o governo não parece estar disposto a ceder nesse quesito e reduzir sua arrecadação", analisou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. Para ele, a tendência é de que a defasagem se arraste por um prazo ainda maior.

Segundo Barbassa, há certa defasagem nos preços no curto prazo, mas "na prática", os preços domésticos acompanham o petróleo do tipo Brent num ritmo mais lento.

Munido de tabelas relativas aos preços de realização da companhia nos anos de 2008 a 2010, ele apontou que em alguns momentos o preço no País esteve acima da cotação no exterior. "Mas há convergência em alguns pontos e compensação ao fim do período."

O preço médio da Petrobrás no ano passado, disse, ficou em R$ 158,26 por barril ante R$ 150,67 nos Estados Unidos. No primeiro trimestre, o preço médio de realização da Petrobrás foi de R$ 163,58 e o preço médio dos Estados Unidos foi de R$ 180,54.

Garantias

ALMIR BARBASSA DIRETOR FINANCEIRO DA PETROBRÁS

"A política de preços da companhia, de não repassar ao consumidor a alta volatilidade do mercado internacional tem sido bem-sucedida, garantindo a estabilidade dos preços domésticos. Nós garantimos a oferta a preços estáveis"