Título: Lula entra em campo para conter a crise e segurar Palocci no governo
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2011, Nacional, p. A4

Na primeira crise política do governo Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo para ajudar a defender o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e garantir a permanência dele na equipe. "Vocês não podem baixar a guarda", disse Lula ontem, em telefonema para o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

Mario López/Efe-19/5/2011Retaguarda. Lula conversa diariamente com Dilma e Palocci Lula ligou para Carvalho do Panamá, onde fez palestra para empresários da construtora Odebrecht. Preocupado com a escalada de denúncias contra Palocci, o ex-presidente conversa quase que diariamente com Dilma e com o chefe da Casa Civil.

Apesar de comentários sobre o "fogo amigo" na seara do PT contra o ministro, tanto Lula como dirigentes do partido estão convencidos de que o tiroteio contra Palocci partiu do PSDB e, mais especificamente, de pessoas ligadas ao ex-governador José Serra na Prefeitura de São Paulo. Por essa avaliação, o objetivo de Serra seria derrubar Palocci, o mais importante ministro da equipe, para atingir Dilma, inviabilizar o governo logo em seu primeiro ano e torpedear o PT. O partido não tem dúvidas de que Serra é pré-candidato à sucessão municipal, em 2012.

No PSDB, a análise de que o ex-governador teria interesse em desestabilizar Palocci é considerada "insustentável", digna de uma "teoria da conspiração". Serra, quando questionado sobre a crise envolvendo Palocci, na segunda-feira, afirmou que o ministro não poderia ser crucificado. "Não tenho o papel de julgador a esse respeito. Acho normal que uma pessoa tenha rendimentos quando não está no governo e que esses rendimentos promovam uma variação patrimonial", disse o tucano.

Mensalão. Em conversas reservadas, Lula compara o bombardeio contra Palocci à crise enfrentada por ele, em 2005, no auge do escândalo do mensalão. Na época, caiu o chefe da Casa Civil, José Dirceu, substituído por Dilma. Nove meses depois, em 2006, Lula entregou a cabeça do próprio Palocci, então ministro da Fazenda, envolvido no escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, revelado pelo Estado.

O ex-presidente tem aconselhado Dilma a deixar o gabinete, "conversar com o povo" e buscar o apoio dos movimentos sociais, como ele fez em 2005.

A estratégia do Planalto não entra no mérito das acusações contra Palocci, que multiplicou seu patrimônio em 20 vezes em quatro anos. A ideia é mostrar o governo como alvo de cerco político "armado" pela oposição.

Na última semana, Lula telefonou para Palocci no mínimo quatro vezes. Disse ao ex-ministro que é preciso ter sangue frio e esclarecer todas as denúncias.

Em 2010, um ano após ter adquirido um escritório por R$ 882 mil, no elegante bairro dos Jardins, o chefe da Casa Civil comprou um apartamento de R$ 6,6 milhões. Na época, ele era um dos coordenadores da campanha de Dilma.

Antes da crise, Palocci era apontado no PT como pré-candidato à Presidência em 2018.

Para os petistas, nem mesmo a revelação de que a consultoria Projeto - montada pelo então deputado Palocci em 2006 - tinha como clientes empresas que mantinham negócios com o governo abala a defesa do ministro.

"Meu Deus do céu, se você for selecionar empresas no Brasil que têm negócios com o governo vai observar que são praticamente todas", disse Gilberto Carvalho. "Nós vamos dar toda a força para Palocci enfrentar essa luta. É claro que há desgaste e temos preocupação com os desdobramentos, mas a recomendação é para que ninguém pare de trabalhar."

Cargos. Na tentativa de esvaziar a ameaça de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e barrar a convocação de Palocci no Congresso, o governo já acena com cargos para acalmar a base aliada. A previsão é a de que, a partir da próxima semana, o quebra-cabeça do segundo escalão comece a tomar forma final.

A oposição não tem votos suficientes para abrir uma CPI mista, mas já está atrás dos insatisfeitos da base aliada. É "suprapartidário" o grupo dos descontentes com a demora de Dilma em definir presidências e diretorias de estatais, autarquias e bancos oficiais. O time reúne parlamentares do PT ao PMDB, passando pelo PSB, PC do B e PR. Na lista dos cargos cobiçados pelos aliados estão as presidências do Banco do Nordeste, do Banco da Amazônia e da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).

PARA LEMBRAR

Uma semana de crise

1.Denúncia

Em quatro anos, Palocci teria multiplicado por 20 seu patrimônio, segundo reportagem da Folha de S. Paulo. Em 2010, ele adquiriu, por meio de sua empresa de consultoria, a Projeto, um apartamento de luxo por R$ 6,6 milhões (foto). Em 2009, comprou um escritório no valor de R$ 882 mil

2.Defesa

O ministro Palocci declara que relatou os bens à Comissão de Ética da Presidência da República. Também afirma que alterou o objeto da sociedade (de consultoria para administradora de imóveis) para que não houvesse conflito com seu cargo. Oposição começa a se movimentar. DEM e PPS pedem explicações. PSDB, até o momento, é o mais contido partido de oposição

3.Blindagem

Planalto monta operação de guerra para blindar Palocci. Na segunda-feira, a presidente Dilma reúne-se com a coordenação do governo e afirma que a denúncia faz parte de um jogo político. Dois dias depois, o governo consegue impedir a convocação de Palocci para prestar depoimento sobre o caso na Câmara

4.Esclarecimento

Comissão de Ética Pública decide que não vai investigar a evolução patrimonial de Palocci e dá o caso por encerrado. PSDB protocola no Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) pedido de esclarecimentos sobre as eventuais movimentações bancárias suspeitas da Projeto

5.Explicações

Casa Civil envia um e-mail para líderes do Congresso defendendo Palocci das acusações. O texto cita outros ex-ministros da área econômica, especialmente do governo de Fernando Henrique Cardoso, que multiplicaram seu patrimônio depois de passarem pelo governo. O texto irrita o PSDB e Palocci pede desculpas aos tucanos. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, diz que pedirá informações ao ministro

6.Nova denúncia

Estado revela que o Coaf enviou, há seis meses, relatório à PF comunicando uma movimentação financeira atípica envolvendo a Projeto e uma empresa do ramo imobiliário que estava sob investigação

7.Negócios

Reportagem do Estado mostra que Palocci teve negócios com 20 empresas e que rendimento foi concentrado em novembro e dezembro de 2010. Um dos negócios, segundo a Folha, seria com a WTorre e o faturamento da empresa no ano passado pode ter superado R$ 20 milhões

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