Título: Defesa vê terrorismo judicial em Campinas
Autor: Souza, Rose Mary de
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2011, Nacional, p. A9

Segundo advogado, ordem de prisão foi tentativa de desestabilizar acusados detidos desde sexta-feira sob acusação de fraude em licitações

A defesa dos acusados de participação em esquema de fraudes em licitações da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento de Campinas (Sanasa) denunciam "terrorismo judicial" contra seus clientes, presos preventivamente desde sexta-feira no 2.º Distrito Policial.

A expressão foi usada pelo advogado Augusto Arruda Botelho ao analisar a situação de seu cliente Aurelio Cance Junior, diretor técnico da Sanasa, que ocupa uma cela comum com outras 10 pessoas, entre elas, empresários e ex-integrantes do primeiro escalão da Prefeitura de Campinas. Todos foram alvo de operação da força-tarefa do Ministério Público, da Polícia Militar e da Corregedoria da Polícia Civil.

A listagem de prisão contém 20 nomes. Nove são considerados foragidos da Justiça, entre eles o vice prefeito Demétrio Vilagra (PT), os secretários de segurança, Carlos Henrique Pinto, e das Comunicações, Francisco de Lagos. Ficou de fora Rosely Nassin Jorge Santos - mulher e chefe de gabinete do prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT) - que dispõe de um habeas corpus preventivo.

Apressado e impaciente, com um calhamaço de papeis dobrados na mão, Botelho foi até a sala anexa do 2.º Distrito Policial, local onde são levados os presos temporários comuns, no começo da tarde de domingo. Enquanto aguardava que a carceragem lhe abrisse o portão, ele argumentava não ver a necessidade de prisão de seu cliente. "Em todas as ocasiões, ele atendeu ao chamado dos promotores e colabora com a Justiça." Segundo o advogado, "a ordem de prisão expedida na sexta-feira foi uma tentativa de desestabilizar as pessoas detidas e dificultar o trabalho dos advogados". E acrescentou que vai pedir um habeas corpus.

Gritos. Já o advogado Eduardo Tela disse ter ido "dar um apoio moral" a seu cliente Valdir Carlos Boscato. Valdir teve uma crise de hipertensão e precisou de assistência de um médico na cadeia.

"Dentro do possível ele e os demais estão bem. Mas fica o fator emocional abalado", comentou. A cela ocupada pelos 11 homens tem um único banheiro e o banho é de água fria, que chega de um cano de PVC.

Não há TV ou rádio. Alguns estenderam colchões no chão e outros ocupam as camas de cimento. Familiares não puderam fazer visitas, mas enviaram alimentos e roupas.

Gritos e gemidos eram ouvidos a cada meio minuto do lado de fora do 2.º Distrito Policial. Tela contou que um rapaz preso em outra cela estava passando por crise de abstinência de drogas. A informação foi confirmada por uma funcionária. "Solicitamos que uma ambulância o leve a uma unidade de saúde."

Tela disse que Boscato já cumpriu mais de 60% da prisão temporária e, por acreditar que o juiz não decretará prorrogação, não pedirá um habeas corpus. "Ele não se sente culpado. Mas uma decisão do juiz temos de respeitar", explicou. "O Aquino (Luiz Augusto Castrillon de Aquino, presidente da Sanasa de 2005 a 2008) não foi preso por que se beneficiou de uma delação premiada. Poderia estar aqui também."

Reunião. O prefeito Dr. Hélio participou ontem de reunião com seu partido. No sábado foi divulgada uma nota assinada pelos partidos aliados (PC do B, PDT, PT, PMDB, PSD, PPS, PTB, PRP e PSC) em repúdio "às frequentes e injustificadas tentativas de desestabilizar a administração" da cidade. O documento afirma que "não há vinculo do prefeito com as investigações".