Título: Argentina pede ao Brasil gesto de boa vontade
Autor: Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2011, Economia, p. B7

Ao embaixador brasileiro, ministra argentina solicita liberação ""pelo menos"" dos carros parados na fronteira

A ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, reuniu-se ontem com o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Enio Cordeiro, para começar a desativar a escalada do conflito comercial entre os dois países.

No encontro, Débora e Cordeiro discutiram a data da reunião entre o secretário da Indústria argentino, Eduardo Bianchi, e o secretário executivo do ministério do Desenvolvimento do Brasil, Alessandro Teixeira.

Essa reunião, segundo fontes próximas às negociações, será realizada na segunda-feira e terça-feira, em Buenos Aires

Cordeiro disse que a administração Kirchner espera que o Brasil "faça um gesto de boa vontade" e libere parte dos automóveis que estão parados na fronteira. O diplomata, na sequência, ressaltou: "As medidas de boa vontade devem ser recíprocas".

Segundo fontes argentinas, embora as licenças não automáticas continuem, Buenos Aires pede que seja aplicado um sistema administrativo de fast-track (via rápida) para que os carros sejam liberados em prazo inferior aos 60 dias previstos. Por semana, em média, a Argentina envia 8 mil automóveis para o Brasil.

Por enquanto, a avaliação do gabinete do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, é que nada será feito antes da reunião entre os secretários.

Em entrevista na embaixada do Brasil, Cordeiro disse que "existe a melhor intenção do Brasil e da Argentina de chegar à uma solução que satisfaça ambos os lados."

A 20 quarteirões dali, no Ministério da Indústria, com tom menos bélico do que nos últimos dias, a ministra Giorgi definiu a reunião com o diplomata brasileiro como "muito positiva". Na sequência, indicou que "vamos privilegiar a relação de sócios estratégicos".

Segundo ela, "os secretários (Bianchi e Teixeira) trabalharão sobre uma agenda que incluirá todos os assuntos pendentes, sejam pontuais ou estruturais". O plano é que após a reunião dos secretários, os dois governos programem um conclave entre os dois ministros - Débora e Pimentel - protagonistas desse imbróglio bilateral.

A ideia é desativar a crise antes da cúpula do Mercosul, marcada para daqui um mês e meio em Assunção, Paraguai. Essa será a primeira cúpula do Cone Sul que reunirá as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. O plano é mostrar coesão dentro do Mercosul, criado há 20 anos.

O presidente da Ford Brasil, Marcos de Oliveira, disse que as medidas ainda não provocaram impacto nas operações do grupo. Mas, "se forem mantidas no longo prazo, há risco de comprometer nosso desempenho"./COLABOROU GUSTAVO URIBE