Título: UE admite reestruturação da dívida da Grécia
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2011, Economia, p. B11

Um ano depois de conceder a primeira linha de empréstimo ao país, autoridades europeias confirmaram hipótese de renegociar prazos de pagamento

Petros Giannakouris/APDiscurso. Durante conferência, premier Georges Papandreou descarta reestruturação A palavra que o mercado financeiro da Europa mais temia, mas mais cogitava, foi pronunciada ontem, em Bruxelas: reestruturação. Um ano depois de conceder uma primeira linha de empréstimo à Grécia, líderes políticos da União Europeia (UE) confirmaram que analisam uma "reestruturação branda" da dívida soberana grega.

O sinal mais claro foi dado por Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo e coordenador do Ecofin, o fórum de Economia e Finanças da zona euro. De acordo com o premiê, a renegociação dos prazos de reembolso do empréstimo de ? 110 bilhões concedido em maio de 2010 a Atenas poderá acontecer, desde que o governo de Georges Papandreou se mostre ágil na aplicação do plano de austeridade acertado com a UE e com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Juncker disse ainda que a Grécia terá de fornecer detalhes e prazos sobre o plano de privatizações avaliado em ? 50 bilhões, com o qual se comprometeu. Caso todas as exigências sejam atendidas, pode haver uma renegociação.

"Se a Grécia fizer todos os seus esforços, então nós deveremos ver se é possível realizar uma reestruturação doce para o país", afirmou, detalhando: "Eu sou totalmente contrário a uma reestruturação maior".

Ao término da reunião do Ecofin, o comissário europeu de Relações Econômicas e Monetárias, Olli Rehn, também reconheceu que as alterações na dívida grega estão em andamento.

A exemplo de Juncker, Rehn usou um eufemismo para falar da reestruturação. "Se a reestruturação da dívida não faz parte das opções, uma iniciativa que teria por objetivo manter a exposição dos investidores privados na Grécia é possível", disse. "Nesse contexto, um alongamento voluntário da maturidade das dívidas, chamada de mudança de perfil ou reescalonamento voluntário, poderia ser examinado."

A hipótese de uma reestruturação de grande escala é descartada pela UE por diversas razões, entre as quais porque cerca de 70% dos títulos da dívida grega está nas mãos de bancos da França, da Alemanha e dos Estados Unidos. Só o banco francês BNP Paribas tem ? 1,2 bilhão em papeis da dívida grega.

Na segunda-feira, a ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, voltou a descartar a possibilidade de um calote ou de uma moratória. "Toda reestruturação ou reescalonamento que constituiria um calote está fora de cogitação."

Defesa. Entre os líderes europeus, o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Stäuble, vem sendo um dos mais ativos na defesa da "partilha" do esforço do reescalonamento, que deveria envolver não apenas outros governos, mas também credores privados da Grécia. O objetivo de Berlim é convencer os investidores de que um reescalonamento moderado da dívida pode evitar o calote, garantindo o reembolso das obrigações.

A crise da dívida grega chegou ao ápice em 2010, quando o déficit público do país chegou a 15% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, a cifra é estimada em torno de 10%. Já a dívida pública não para de crescer e chegou em 2011 a 150% do PIB - ou duas vezes e meia o limite estabelecido pelo Tratado de Maastricht.