Título: Decisão da presidente divide educadores
Autor: Monteiro, Tânia ; Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2011, Vida, p. A18

Especialistas divergem se é papel da escola ser a transmissora desse tipo de orientação aos adolescentes

A decisão da presidente Dilma Rousseff de proibir a circulação dos vídeos e da cartilha contra a homofobia tem gerado controvérsia entre especialistas. Mais que o debate sobre o conteúdo dos vídeos, a questão recai sobre o fato de ser ou não papel do Estado atuar nesse assunto.

Para Silvia Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a escola não pode ficar alheia. "Do mesmo jeito que a escola desenvolve conteúdo de educação para o tráfico, para o trânsito, precisa ter um material de combate à homofobia", diz. A educadora acrescenta que a discussão de valores como a tolerância deve ser tão valorizada quanto os conteúdos de história e geografia. "Se não receber cuidado, isso se torna problema social, até crime."

Ari Rehfeld, psicoterapeuta e professor da Faculdade de Psicologia da PUC, discorda. "Não dá para o Estado se colocar na posição de pai, tratando o povo como filho imaturo. Não é seu papel influir na cultura de um povo e dizer que tem a verdade, independentemente de qual seja ela."

Rehfeld defende que os vídeos sejam exibidos em circuitos alternativos, como ONGs e instituições culturais. "O material é benfeito, porque coloca o espectador no lugar do personagem, faz com que ele entre no mundo dele", diz o psicoterapeuta. "Mas deve ser visto de forma espontânea. A partir do momento em que chega à escola, vira conteúdo obrigatório. Isso é errado."

Para o especialista, o argumento de quem alega que os vídeos estimulam a homossexualidade é improcedente. "Isso é falta de conhecimento dos processos psicológicos e emocionais."

Roteiro. São três os vídeos da série "Escola contra homofobia" vetados pela presidente. O primeiro, Probabilidade, conta a história de Leonardo, um adolescente que se muda de cidade e é obrigado a deixar a namorada. De repente, ele se vê atraído e com vontade de beijar o primo de seu melhor amigo. No início, Leonardo se assusta com a possibilidade de ser gay. No dia seguinte, durante a aula, uma colega também lhe atrai. Por fim, Leonardo se convence que não precisa decidir se gosta só de garoto ou de garota.

O segundo, Torpedo, conta a história de duas adolescentes flagradas pelos colegas de escola. Depois de conversarem sobre o assunto, decidem assumir o namoro e enfrentar os olhares de reprovação.

Por fim, Encontrando Bianca é o depoimento de um jovem que sofreu até ser aceito pelos colegas. Hoje, ele frequenta as aulas vestido com roupas femininas e diz que há professores que ainda o chamam de José Ricardo, seu nome de batismo. "Será que é tão complicado anotar outro nome ao lado do que está na chamada?", pergunta o narrador.