Título: Novo socorro à Grécia só sai com intervenção
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2011, Economia, p. B9

CORRESPONDENTE / PARIS

Em troca de um novo plano de socorro, avaliado entre ? 30 bilhões a ? 35 bilhões, a União Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) podem promover uma intervenção internacional na administração econômica da Grécia.

A iniciativa, em fase de negociações em Bruxelas, diz respeito à obrigação, por parte do governo grego, de realizar privatizações avaliadas em ? 50 bilhões. As vendas seriam organizadas por uma agência internacional a ser criada e controlada pelos europeus, retirando de Atenas parte de sua soberania.

A revelação foi feita pelos jornais Financial Times e Le Figaro, que abordaram negociações em Bruxelas no fim de semana. Segundo cálculos do BCE, a Grécia vai precisar até 2013 de cerca de ? 70 bilhões para honrar os vencimentos de títulos de sua dívida soberana. Essas obrigações não foram cobertas pelo primeiro pacote de socorro, de ? 110 bilhões, em maio de 2010. Daí a necessidade de novos recursos.

Nos últimos dias, as discussões com a "trinca", grupo formado por técnicos da UE, do BCE e do FMI, em torno da liberação da quinta parcela do empréstimo, avaliada em ? 12 bilhões, foram bloqueadas pela oposição, que recusou no Parlamento o pacote de privatizações apresentado pelo governo.

Agora, diferentes países do norte da Europa, como Alemanha e Holanda, estariam pressionando pela assinatura de um acordo multipartidário na Grécia em favor dos planos de austeridade e de privatizações. E, para gerenciar as vendas de patrimônio público, uma agência seria criada, sob o controle da União Europeia e de experts internacionais. A ideia foi evocada pelo ministro de Finanças da Holanda, Jan Kees de Jager, na reunião do Eurogrupo - o fórum de ministros da zona do euro -, há dez dias. "Nós estamos além das suscetibilidades. Nossa situação já é simplesmente séria demais", argumentou Jager ao FT.

O plano de privatizações prevê a redução de 51% a 34% do capital do Estado na companhia nacional de eletricidade (DEI), a venda de parte dos 20% de ações do governo na operadora de telefonia OTE, além de privatizações parciais ou totais em empresas de transportes férreos (TrainOSE), gás (Depa), no Banco Postal, em cassinos, loterias e em portos.

Há cerca de um mês, a UE, o FMI e o governo grego vêm discutindo a hipótese de um novo aporte, que poderia chegar a ? 35 bilhões. A exigência de contrapartidas, entretanto, provoca a reação da sociedade civil e dos partidos de oposição ao governo do primeiro-ministro socialista Georges Papandreou. No domingo, pelo menos 30 mil manifestantes protestaram contra os programas de austeridade.

Reestruturação. Questionado sobre a possibilidade de um acordo com as autoridades gregas, Jean-Claude Juncker, premiê de Luxemburgo e coordenador do Eurogrupo, se disse "otimista". "Nós vamos tentar resolver o problema grego até o fim do mês", afirmou ontem. Há dez dias, Juncker chegou a defender o que chamou de "reestruturação branda" para a dívida soberana da Grécia. Ontem, ele recuou na iniciativa: "A reestruturação total da dívida grega não é uma opção, nem é considerada por ninguém. Logo, não haverá reestruturação da dívida grega".

Na prática, para driblar a reestruturação "convencional" a Europa busca encontrar uma forma de obter a adesão voluntária de investidores que aceitem alongar os prazos de vencimentos das obrigações gregas. A hipótese foi discutida na quinta e sexta-feira em Deauville, no G-8.