Título: Novo ciclo de importações é um dos motivos da queda de produção
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2011, Economia, p. B6
Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
Para o economista-chefe do Iedi, Rogério César de Souza, entre os fatores que explicam a queda da produção em abril está uma nova onda de substituição de bens domésticos pelos importados.
A produção caiu em abril, depois de três meses de alta. O que explica essa mudança?
A gente pode pegar três pontos aí. O primeiro, que diz respeito à indústria em geral, está relacionado a um novo ciclo forte de importações, dada a valorização recente do real. No começo do ano, houve uma acomodação da forte onda de importações que atingiu o País nos últimos nove meses do ano passado. Isso deu espaço para a indústria começar a crescer. Mas essa acomodação pode ter terminado em abril. É um motivo ruim, que pode ter efeitos mais de médio e longo prazos durante todo este ano.
E os outros dois pontos?
Um está ligado aos bens de capital, cuja produção teve queda substantiva (2,9%). Além das importações, o que pode estar por trás dessa queda seria uma reversão das expectativas com relação ao próprio desempenho da economia brasileira. Como a gente sabe que os bens de capital espelham um pouco os investimentos da economia, é possível especular que essa queda seja um recuo também nos investimentos, o que é também bastante ruim.
É reflexo das medidas do governo para conter a economia?
Sim, e essa questão é o meu terceiro ponto. Houve uma queda fortíssima, de 10,1%, na produção de bens de consumo duráveis. Na verdade, a produção desses bens vinha oscilando, entre resultados ruins e bons, já há um bom tempo. Desde novembro, quando o governo começou com as medidas macroprudenciais para conter o crédito, o setor de bens duráveis acumula queda superior a 3%. O setor começa de fato a sentir agora, de forma mais incisiva, essas medidas.
Qual é a tendência da produção para os próximos meses?
Basta olhar para os bens intermediários, que têm apresentado ou resultados muito fracos ou resultados negativos nos últimos meses. Em abril, caiu 0,6%. Esse setor não só tem o maior peso dentro da indústria, mas também representa as compras internas para as vendas da indústria. É uma espécie de termômetro da atividades industrial. E ele está dizendo que o ritmo está fraco.