Título: OAB acusa governos por mortes no campo
Autor: Peron, Isadora
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Nacional, p. A11

Ophir Cavalcante cobra "omissão" de autoridades federais e estaduais por "arremedo de reforma agrária" feita no País

Os recentes assassinatos de agricultores na região amazônica são fruto da omissão dos governos federal e estaduais e de um "arremedo de reforma agrária", afirmou ontem o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante.

"A OAB vem denunciando há algum tempo essa omissão", avisa Cavalcante. "Omissão dos governos federal e estaduais, nessas áreas de conflito. É necessário que haja ações concertadas, é necessário que haja uma política de reforma agrária nesse País, que não se continue com esse arremedo de reforma agrária".

Após participar de um encontro das seccionais da Ordem em um hotel de Belo Horizonte, o presidente da OAB afirmou: "Apelidou-se de reforma agrária o ato de entregar lotes de terra e simplesmente fazer assentamento, sem dar condições para que o agricultor familiar possa evoluir".

Políticas públicas. Na opinião de Cavalcante, "chegou a hora de políticas públicas de segurança e de investimentos numa efetiva reforma agrária". As mortes de trabalhadores e líderes camponeses na Amazônia, prossegue, "é a repetição de algo que vem acontecendo há muito tempo", fruto do "descaso" do poder público. "É uma região em que a terra é o meio de sobrevivência das pessoas. Uma região em que os lugares dos conflitos pertencem a todos, absolutamente todos, à União, que é a maior latifundiária do Pará, do Amazonas", acrescentou.

A saída para isso é "o governo brasileiro assumir seu papel e encarar a Amazônia com outro olhar". "Não com um olhar de pena, mas de que efetivamente o Brasil só pode crescer para ali. É necessário cuidar da natureza, afastar a grilagem de terras, acabar com desmatamento e com a venda ilegal de madeiras. Isso tudo tem proporcionado a instalação do crime organizado na região e a morte de agricultores."

Protesto marca enterro de agricultor no Pará

O agricultor Marcos Gomes da Silva, assassinado em Eldorado dos Carajás (PA), foi enterrado no ontem. A cerimônia foi acompanhada por cerca de 25 pessoas, entre elas a presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais, Regina Gonçalves Chaves. Ela protestou contra a violência no campo e disse já ter sido alvo de ameaças.