Título: ONU discute levantar sanções contra Taleban
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Internacional, p. A21

EUA e Grã-Bretanha apoiam a iniciativa, que teria como objetivo incentivar os insurgentes a negociar um acordo de paz no Afeganistão

Grã-Bretanha e EUA fazem pressão na ONU pelo fim das sanções contra 18 membros do Taleban. Os 15 países que integram o Comitê de Sanções da organização têm até o dia 16 para tomar uma decisão. A medida é considerada a mais forte indicação até agora de que a coalizão ocidental decidiu buscar uma paz negociada com os radicais afegãos.

Com a aproximação do aniversário de dez anos da invasão do Afeganistão, em outubro, a possibilidade de retirar membros do Taleban da lista negra da ONU tem sido usada por diplomatas americanos e europeus, e pelo próprio governo afegão, como um incentivo para que importantes figuras do grupo insurgente aceitem uma solução negociada.

Em setembro, o governo do primeiro-ministro afegão, Hamid Karzai, apresentou uma lista de 50 nomes que deveria ser analisada pela ONU. Posteriormente, o número de indivíduos foi reduzido para 18. Entre eles está o nome de Mohamed Qalamuddin, ex-chefe da polícia religiosa do Taleban, que fiscalizava o cumprimento das rigorosas regras do Islã.

Os agentes de Qalamuddin costumavam espancar mulheres que usavam maquiagem, salto alto e caminhavam sem a burca, além de homens cujas barbas não tinham o comprimento adequado. A polícia religiosa também era responsável pelo banimento de pipas, música e televisores no Afeganistão dos anos 90.

Aos 60 anos, mesmo alvo de sanções, Qalamuddin ressurgiu na política afegã ao ser nomeado por Karzai para integrar o Alto Conselho para a Paz, grupo composto por 70 membros, criado no ano passado, para discutir o processo de reconciliação nacional.

A maioria dos nomes que podem sair da lista negra são de figuras que têm servido de intermediários nas negociações com os insurgentes - além de Qalamuddin, também faz parte da relação Arsala Rahmani, ex-ministro da Educação do Taleban.

Ontem, um ministro afegão afirmou ao jornal britânico The Guardian que o fim das sanções facilitaria o estabelecimento de escritórios do Taleban em algum país próximo ao Afeganistão e permitiria que esses intermediários - que vivem em Cabul - pudessem viajar para participar das negociações.

A Rússia, que lutou por mais de dez anos contra os afegãos, nos ano 80, seria o maior obstáculo ao fim das sanções, por temer a liberdade de circulação de muitos ex-guerrilheiros mujahedin, como Rahmani, que lutaram contra os soviéticos.

PARA LEMBRAR

Em 1999, quando o Taleban ainda estava no poder no Afeganistão, a ONU congelou ativos, restringiu a locomoção e proibiu a venda de armas para membros ou pessoas ligadas ao grupo. Após os ataques de 11 de setembro de 2001, as medidas foram ampliadas. Uma lista negra com cerca de 140 membros foi consolidada. Eles foram impedidos de viajar e de ter contas bancárias. O fim das sanções, ao menos para alguns desses indivíduos, é uma das mais importantes exigências dos insurgentes e tem apoio do governo do premiê Hamid Karzai.