Título: Brasil quer participação maior no dia a dia do FMI
Autor: Veríssimo, Renata; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2011, Economia, p. B9

Em encontro com Agustín Casters, candidato mexicano ao cargo de diretor-gerente do Fundo, Mantega disse que apoiará quem der mais espaço ao País

BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O Brasil iniciou uma campanha pública para que um representante da América Latina faça parte do primeiro escalão do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que estava colocando "as cartas na mesa" e deixou claro que apoiará o candidato a diretor-gerente do Fundo que se comprometer a dar mais espaço ao Brasil. A declaração foi feita ao lado do presidente do Banco Central do México e candidato ao cargo, Agustín Carstens.

"Pleiteamos presença maior nas diretorias do Fundo e também na vice-presidência", disse, acrescentando que a representação do Brasil foi reduzida com a saída de Murilo Portugal de uma das vice-presidências do Fundo. Segundo Mantega, o FMI possui 24 chefias de departamento e nenhum diretor é brasileiro ou mexicano.

Na segunda-feira, Mantega recebeu a ministra das Finanças da França e também candidata ao cargo de diretor-gerente do FMI, Christine Lagarde, mas não explicitou aos jornalistas o desejo do Brasil de ter mais cargos. O ministro tem repetido que quer um candidato que continue o processo de reformas da instituição, iniciado com o ex-diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn, para ampliar as cotas dos emergentes no FMI.

Mantega enfatizou a necessidade de que a representação dos emergentes seja em cargos que tenham poder de resolução diária. "Os latino-americanos querem ter participação maior, e isso significa participação maior no dia a dia, pois decisões importantes também são tomadas no dia a dia", argumentou.

"Mente aberta". Carstens disse esperar que os membros do FMI estejam com a "mente aberta" para ter um mexicano na direção, no momento em que a Europa passa por grave crise financeira. "O México somou-se a esse esforço de que o diretor seja eleito com base em experiências, habilidade para enfrentar temas importantes e urgentes. Acredito que tenho os méritos e as habilidades para ser diretor-gerente do FMI", afirmou.

O presidente do BC mexicano avaliou que, assim como o Brasil, muitos países estão esperando que todos os possíveis candidatos se apresentem para declarar seus apoios. O prazo para lançar candidaturas vai até 10 de junho. Ele contou que recebeu expressões de simpatia de vários países, mas não significam compromissos de voto. "Os únicos que decidiram os votos, acelerando os passos, e de forma conservadora, são os europeus. Acredito que a escolha deveria ser por mérito. Ainda estamos em uma etapa prematura do processo."

Mantega lembrou que a regra de eleger sempre um europeu para a vaga foi estabelecida após a 2.ª Guerra Mundial, quando Europa tinha peso maior na economia. O ministro enfatizou que, nos últimos anos, os países emergentes tiveram desempenho econômico melhor que os avançados. Por isso, para o ministro, a transformação pela qual o Fundo passa agora precisa também se adequar à fiscalização dos países avançados. "Ou melhor, países que têm problema e criam problemas para outros países."

Poder de decisão

Guido Mantega

Ministro da Fazenda

"Os latino-americanos querem ter participação maior (...) no dia a dia, pois decisões importantes também são tomadas no dia a dia"