Título: Investimento reage e cresce 1,2%, mas ainda não configura uma tendência
Autor: Dantas, Fernando ; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Economia, p. B1

Para o IBGE, indicador considerado o mais volátil das contas nacionais ainda pode sofrer impacto dos juros e do crédito do BNDES

Depois da desaceleração iniciada no terceiro trimestre do ano passado, a formação bruta de capital fixo, indicador que espelha os investimentos na economia, reagiu nos três primeiros meses de 2011. O avanço de 1,2% no período após o tímido resultado de 0,4% do último trimestre de 2010 interrompeu a desaceleração do indicador iniciada no segundo semestre de 2010.

No entanto, a recuperação do ritmo do investimento ainda não configura uma tendência. O próprio desaquecimento do consumo espelhado nos dados do IBGE divulgados ontem, a redução da confiança dos industriais e a queda de 2,1% da produção industrial em abril, na comparação com março, configuram um cenário neste segundo trimestre que já pode ser diferente daquele do início do ano.

Na comparação com o mesmo período de 2010, o avanço do investimento foi de 8,8%, ante 5,9% do consumo privado, resultado menor que os 12,3% do último trimestre do ano passado. No entanto, a comparação se dá sobre a base alta da forte recuperação do início de 2010, quando a expansão foi de 28,4%.

Rebeca Palis, gerente da coordenação de Contas Nacionais do IBGE, explica que a dificuldade para determinar uma tendência sobre o investimento vem do fato de que esse é o indicador mais volátil das contas nacionais. "É preciso ainda saber o efeito dos juros e da manutenção das linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social."

O reajuste das taxas dos financiamentos subsidiados do BNDES para máquinas e equipamentos, em abril, pode ter provocado antecipação dos investimentos no primeiro trimestre. No entanto, os desembolsos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) mantiveram praticamente a mesma média mensal de liberações após o reajuste. Somaram R$ 19,3 bilhões entre janeiro e maio, sendo R$ 12 bilhões no primeiro trimestre.

Para Fernando Puga, chefe de departamento da Área de Pesquisa Econômica do BNDES, o PSI pode ter influenciado, mas a recuperação do indicador é puxada mesmo pela produção. Ele citou os grandes projetos de energia e na área de petróleo e gás como investimentos em curso sem ligação com a conjuntura. Ao contrário, visam ao longo prazo, o que também pode estar levando empresários de outros setores a manter projetos, independentemente do consumo.

"Desde o final do ano passado, já se falava que este é um ano de acomodação (do consumo). As empresas quando planejam investimentos estão pensando no longo prazo", afirmou. Para ele, a taxa de investimento na economia, que ficou em 18,4% do PIB no primeiro trimestre (ainda abaixo do nível pré-crise) vai se aproximar de 19% este ano e crescer com mais força até 2014, quando deverá chegar a 23%.

"O movimento para os próximos anos é de investimento crescendo o dobro do PIB, mais ou menos em linha com o desempenho atual", avalia Puga.

Imóveis. Ele lembra ainda que o crédito habitacional, movido por programas como o Minha Casa, Minha Vida, ficou de fora do aperto monetário e a liberação dos empréstimos cresce a taxas próximas a 90%. A construção civil representa um quarto da chamada formação bruta de capital fixo. O setor liderou a área industrial, com expansão de 5,2% apurada pelo IBGE no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2010.

A indústria de transformação avançou 2,4% nessa mesma comparação, com destaque para a produção de máquinas e equipamentos e para veículos comerciais, como ônibus e caminhões, também considerados bens de capital. O desempenho é outro reflexo da alta dos investimentos, mas a indústria nacional poderia se beneficiar mais desse movimento.

Para o economista Antonio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP, é preocupante ter grande parte dos investimentos coberta por bens de capital estrangeiros, que respondem por boa parte da elevada expansão de 13,1% nas importações no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2010. "É preciso criar condições para a manutenção dos investimentos, principalmente, nas áreas de maior valor agregado onde o câmbio favorece a competição com os importados."

Entre as outras atividades, destacaram-se produção de eletricidade, gás e água (4,9%) e extrativa mineral (4,0%). O aumento de produtividade e a expectativa de safra recorde este ano impulsionaram a agricultura no primeiro trimestre, que teve o maior destaque no PIB na comparação com o trimestre anterior. A produção no campo cresceu 3,3% no período, bem acima da média de 1,3% do PIB. Entre as maiores altas ficaram soja (6,3%), milho (3,0%), arroz (18,4%) e algodão (69,5%). / COLABORARAM DANIELA AMORIM E ALESSANDRA SARAIVA