Título: Consumo das famílias vai continuar forte
Autor: Dantas, Fernando ; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Economia, p. B1

Entrevista- André Loes, economista-chefe do HSBC

Para o economista, desempenho fraco é "episódico" e o emprego deve manter os gastos dos brasileiros em alta

Fernando Dantas

O economista-chefe do HSBC, André Loes, acha que o fraco desempenho do consumo no primeiro trimestre, pode ser "episódico", e que as famílias continuarão a sustentar o ritmo da economia durante o ano. Por isso, ele não vê alívio no front inflacionário.

O que o sr. achou do resultado do PIB no primeiro trimestre?

A gente esperava mais, 1,5% de crescimento na margem (em relação ao mês anterior). A nossa previsão para o ano era de 4,7%, e esse resultado deve nos fazer revê-la para baixo, mas, pelo que vimos até agora, não abaixo de 4%. A nossa visão do PIB para o ano, mais alta do que o consenso, leva em conta que o mercado de trabalho está muito forte. Assim, ele puxa muito o setor de serviços. Há uma disparidade muito grande entre os dados de alta frequência (indicadores que são divulgados em curtos intervalos de tempo)de indústria e de serviços. A indústria sofre muito com o câmbio, e por isso cresce menos. E nós temos a visão de que, pelos serviços terem uma participação maior no PIB, isso puxaria um crescimento maior.

O que fez o resultado vir abaixo da sua projeção?

Os investimentos vieram bastante aquém do que a gente projetava. Nós imaginávamos uma alta de 15%, e veio 8,8%, na comparação com o primeiro trimestre de 2010. Isso mostra que o governo fez um esforço significativo para o ajuste fiscal no início do ano, o que se refletiu no investimento.

O resultado do PIB muda a sua projeção de inflação?

Acho que não enfraquece a nossa projeção de inflação de 6,4% este ano. Porque, a despeito do PIB mais fraco no primeiro trimestre, que indica um PIB menor no ano, o consumo ainda deve vir forte. E acho que o fator principal na discussão sobre inflação hoje é o consumo.

Mas o consumo das famílias veio muito fraco no primeiro trimestre.

É verdade, mas acho que é episódico. Os dados de varejo e de mercado de trabalho no segundo trimestre estão vindo fortes. Às vezes há um pouco de acomodação num trimestre, e depois volta. Os dados de alta frequência me fazem crer que o consumo das famílias vai seguir, ao longo do ano, sendo um suporte relevante para o PIB. E o investimento, não, porque o governo aparentemente está segurando o investimento em infraestrutura para ajudar no ajuste fiscal.

E o setor externo?

A despeito do ganho de termos de troca que faz com que o déficit em conta corrente não piore tanto, cada vez mais há problemas de exportação em termos de quantidades.

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