Título: O refugo dos voos de galinhas
Autor: Dantas, Fernando ; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Economia, p. B1

Para que a tendência do desenvolvimento seja acelerada com menor volatilidade da atividade econômica, torna-se imperativo a ampliação da taxa de investimentos na economia. Segundo o IBGE, esta última atingiu 18,4% do PIB no primeiro trimestre de 2011, um patamar levemente superior ao registrado em 2010 (18,2% PIB), mas ainda inferior ao do primeiro trimestre de 2008 (18,5%), antes da crise internacional.

Tal como ocorreu no primeiro trimestre de 2010 em comparação com o último do ano anterior, os dados mostram que, no início de 2011, a taxa de crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (1,2%) atingiu uma velocidade de expansão duas vezes superior à do consumo privado (0,6%), interrompendo o movimento de queda dessa relação a partir do segundo trimestre de 2010. Uma vez que a aceleração da tendência do crescimento econômico esbarra na insuficiência da taxa de investimentos, a questão colocada à política econômica é a da superação dos entraves à continuidade do movimento de alívio daquela insuficiência.

Na qualidade essencial de agente dos investimentos, a indústria é a base de sustentação do desenvolvimento. Não obstante, uma mudança de preços relativos destinada a estimular o investimento industrial pela taxa de câmbio acaba por produzir elevação permanente do nível absoluto de preços, de forma geral e equivocadamente, interpretada como descontrole inflacionário. A preocupação com a inflação passa a dominar as expectativas de mercado, procurando influenciar o Banco Central pela elevação da taxa de juros.

O aumento dos juros, contudo, desestimula a decisão de investir e acaba nos levando, assim, de volta ao ponto de partida; configurando-se uma situação de "voo de galinha" na economia, onde o baixo crescimento é perpetuado e julgado a norma, em nome da estabilidade monetária.

A opção pelo câmbio valorizado como instrumento de combate à inflação prejudica o balanço de pagamentos e incentiva a produção doméstica dos bens não transacionáveis com o exterior; ou seja, justamente daqueles setores com baixa propensão ao investimento.

A alternativa não inflacionária de política econômica é a proatividade da política fiscal. Nesse sentido, proatividade significa manejo dos instrumentos fiscais para remover os custos empresariais no ajustamento da produção doméstica aos novos condicionamentos externos e à ruptura, já em curso, com a estratégia econômica característica de um passado ainda recente, organizada em torno da valorização do câmbio para o alcance exclusivo, imediatista e a qualquer custo do centro das metas de inflação.

COORDENADOR DE ANÁLISES E PREVISÕES DO IPEA