Título: Crescimento de 0,6% no consumo agrada ao governo
Autor: Dantas, Fernando ; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Economia, p. B1

Aumento dos gastos das famílias foi o menor desde o 4º trimestre de 2008 e é visto como consequência das medidas contra a inflação

O crescimento de apenas 0,6% do consumo das famílias no primeiro trimestre deste ano foi um dos itens que mais chamaram atenção e agradou à área econômica do governo nos dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados ontem pelo IBGE. Segundo fontes ouvidas pelo "Estado", o desempenho desse indicador evidencia o impacto das medidas macroprudenciais adotadas e sinaliza uma diminuição da pressão de demanda sobre os preços.

O consumo das famílias tem sido um dos principais propulsores da economia brasileira, mas também fonte de dor de cabeça para o Banco Central no combate à inflação. No ano passado, esse indicador estava crescendo na média acima de 1,7% por trimestre - na comparação com o período anterior. A alta de 0,6% de janeiro a março de 2011 ante o período de outubro a dezembro de 2010 foi o desempenho mais fraco desde o quarto trimestre de 2008, quando a crise financeira internacional vivia sua fase mais aguda e o País passou por uma paralisia no crédito.

Embora o governo deseje manter o consumo em alta, a situação de inflação rodando bem acima do centro da meta impõe que os gastos da população cresçam de forma mais contida. Por isso o resultado fraco do indicador no início do ano não desagradou.

Cenário esperado. De forma geral, o resultado do PIB no primeiro trimestre, que cresceu 1,3% na margem (em torno de 5,3% anualizados) e de 4,2% em relação ao primeiro trimestre de 2010, veio dentro do cenário esperado pelo governo e também foi bem recebido. As manifestações públicas tanto do Ministério da Fazenda como do BC deixaram isso claro.

A equipe econômica entende que os números, especialmente os do trimestre em relação a igual período do ano anterior, referendam a tese de que o necessário processo de desaceleração da economia para combater a inflação está em curso e terá sequência ao longo do ano. Fontes ressaltam que as ações de política econômica adotadas ainda estão no início de seus efeitos e devem impactar mais a atividade a partir de agora.

Ou seja, o desaquecimento vai continuar, como indicam os primeiros dados sobre a economia em abril - vide a queda na produção industrial. Nesse sentido, o BC já sinalizou que deve continuar seu processo gradual de alta dos juros, de modo que a economia trabalhe por algum tempo abaixo do potencial (estimado pelo mercado em 4,5%), levando a inflação e as expectativas (para 2012) de volta ao centro da meta de 4,5%.

Mas a preocupação de moderar a atividade vem acompanhada com a cautela de não se esfriar demais a economia. A expansão de 4% neste ano, prevista pelo BC, é vista como um piso no Ministério da Fazenda, embora já haja no governo quem considere esse cenário até um pouco otimista. "O nosso modelo econômico é baseado no crescimento", lembrou uma fonte, explicando que, se o País desacelerar demais, fica mais difícil retomar no momento seguinte, quando a inflação já estiver domada.