Título: É um freio para voltar a crescer
Autor: Dantas, Fernando ; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Economia, p. B1

Entrevista - David Kupfer, coordenador do grupo de pesquisa em Indústria e Competitividade da IE/UFRJ

As empresas podem manter investimentos mesmo diante do desaquecimento do consumo interno. A avaliação é de David Kupfer, coordenador do grupo de pesquisa em Indústria e Competitividade do IE/UFRJ. Para ele, a manutenção do novo impulso do investimento vai depender da eficácia da política econômica no combate à inflação.

A expansão de 1,3% do investimento pode ser comemorada?

A desaceleração do consumo não contaminou o investimento. É positivo que o investimento esteja resistindo. Será uma das estrelas do crescimento em 2011, embora nada exuberante. Não será este ano que vamos chegar a 20% (do PIB) de taxa de investimento, mas vai se aproximar disso. É um fator tranquilizador, na análise do comportamento da inflação. O investimento mantendo-se ainda animado significa que teremos expansão de produção para ajudar a controlar preços.

É a combinação desejada?

Se o consumo e o investimento retraem, a economia reduz a velocidade, mas ainda continua com alta utilização de capacidade. Se o investimento não desacelera, o aumento de oferta pode ajudar a economia a crescer mais rapidamente no período seguinte. A ideia é que seria então um freio de arrumação para voltar a crescer adiante.

O investimento resistirá ao contexto cambial, ao aumento dos juros e queda de consumo e da produção industrial neste segundo semestre?

Esse é o xis da questão. Esse quadro poderá trazer um impacto muito favorável na política de controle da inflação. Se o empresariado entender que a inflação será realmente dominada e, portanto, tudo isso são ajustes conjunturais, não haverá razão para interromper os planos de investimentos. Se ao final do ano a inflação estiver controlada, provavelmente os planos de investimento mantidos serão preservados para 2012 e anos futuros. Se outros fatores estiverem presentes e a inflação resistir, talvez acenda o sinal amarelo no empresariado de que as condições de demanda não justificariam investimentos muito elevados. E aí a gente vai voltar ao "stop em go" de outros períodos, como o da década de 90.

O efeito dessa desaceleração na inflação será determinante para os investimentos?

Se o efeito for rápido e gerar confiança dos agentes de que a inflação será rapidamente controlada ainda este ano, apontando de novo para a meta, a estratégia da política econômica terá dado certo: devolver a inflação a números razoáveis e abrir espaço para voltar a crescer um pouco mais.