Título: Nos países ricos, cenário é de cortes de gastos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2011, Negócios, p. B22

O cenário dos países emergentes contrasta com a realidade nos países ricos. A crise da dívida na Europa, Japão e Estados Unidos obrigou governos a cortarem de forma drástica investimentos em infraestrutura. Na Espanha, 199 obras públicas foram adiadas de forma indeterminada, e 36 contratos foram suspensos até que o déficit estatal seja reduzido. Na prática, o governo cortou 25% de todo o seu investimento em infraestrutura para economizar 8,7 bilhões este ano.

Nas estradas recém-inauguradas por consórcios que esperavam lucrar com os pedágios, a decepção e os prejuízos são grandes. Em um país com 21% de desempregados, a ideia de lucrar com novas taxas para circular não funcionou. A rodovia que liga Madri a Toledo, por exemplo, se transformou em uma estrada fantasma. Em um mês, foram apenas 1,3 mil carros circulando, 5% do que se esperava.

Em Portugal, o pacote de resgate do FMI exigirá cortes nos gastos públicos. Na prática, isso significará um eventual adiamento da construção do trem-bala que ligaria o país à Espanha e que tinha conclusão programada para 2013. Na Alemanha, prefeituras endividadas pedem que cidadãos contribuam e ajudem a pagar para tapar buracos de ruas.

Um estudo publicado no mês passado pela Associação de Prefeitos dos EUA alertou que a maior economia do mundo já investe menos em infraestrutura que os emergentes. Para Parsons Brinkerhoff, presidente da entidade, a liderança que tradicionalmente foi dos EUA em gastos com obras já não é realidade.

"Hoje, os Estados Unidos investem menos de 2% de seu PIB em infraestrutura. Na China e em outros emergentes, a taxa é de pelo menos 9%", afirmou. Isso, sem contar com os cortes de US$ 4 trilhões que o presidente Barack Obama prometeu adotar no orçamento americano.