Título: Funcef dobra participação na usina de Belo Monte
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2011, Economia, p. B4

Fundo de pensão ficará com 5% da usina, após comprar fatia de construtoras que desistiram

O fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) deve dobrar sua participação no consórcio que vai administrar a Hidrelétrica de Belo Monte (PA). A entidade ficará com parte das ações que serão vendidas pelas construtoras que desistiram do negócio. Se a operação for confirmada, a participação estatal no controle da usina será de praticamente 70%.

A ideia do Funcef é comprar cerca de um terço da parcela que as construtoras J.Malucelli, Galvão Engenharia, Cetenco, Contern, Serveng e Mendes Júnior colocaram à venda, conforme noticiou o Estado. Juntas, as empreiteiras detêm 7,25% de participação na usina que será construída no Rio Xingu. Com a aquisição, o fundo de pensão, que tem 2,5%, passará a deter 5% do controle de Belo Monte.

A Neoenergia, outra acionista do consórcio Norte Energia - que vai tocar a hidrelétrica -,deve fechar na semana que vem a compra de outra fatia das construtoras desistentes, segundo informou uma fonte ligada às negociações. Não há ainda uma definição sobre o tamanho da parcela que poderá ser adquirida pela empresa, que detém 10% de participação na usina por meio da Belo Monte Participações. Oficialmente, a empresa, controlada pela Iberdrola, Previ e Banco do Brasil, nega que, no momento, haja qualquer negociação.

Por já serem acionistas, o Funcef e a Neoenergia têm preferência na compra da participação das construtoras. Pelas regras do consórcio, toda vez que um sócio manifesta interesse em deixar o grupo, os demais integrantes têm 30 dias para decidirem se compram ou não a fatia à venda.

Como as construtoras anunciaram a saída há duas semanas, o período de preferência se encerrará dentro de 15 dias.

Mudanças. Com as alterações em negociação, o consórcio Norte Energia ficará com uma configuração bem diferente daquela apresentada no leilão da usina, em abril do ano passado. Fontes do grupo apostam até mesmo que integrantes do consórcio construtor - como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht - poderiam comprar parte das ações que estão sendo vendidas.

Para essas grandes construtoras, entretanto, a compra de uma participação tão pequena não faria sentido, destacam outras empreiteiras. O principal interesse dessas empresas é construir a usina e não ser sócias do empreendimento e assumir os riscos envolvidos na construção, que não são baixos. Além das questões ambientais, o Rio Xingu ainda é uma incógnita.

A Andrade Gutierrez lidera o consórcio construtor com uma fatia de 18% de participação. Odebrecht e Camargo Corrêa detêm, cada uma, outros 16% do grupo. No caso da Andrade, a empresa participou do consórcio que perdeu o leilão para o Norte Energia. Apesar disso, logo após a disputa a empresa se tornou a principal construtora da obra, deixando as construtoras do consórcio vencedor com participação reduzida. Odebrecht e Camargo desistiram do negócio semanas antes do leilão, o que obrigou o governo a montar às pressas um consórcio capaz de concorrer com o grupo da Andrade.

Das seis empreiteiras que estão deixando o Norte Energia, cinco fazem parte do grupo de empresas que fará a construção de Belo Monte. Apenas a construtora Mendes Júnior está fora por causa de uma pendência que tem com o Banco do Brasil. Em várias oportunidades, o consórcio Norte Energia e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmaram que existem várias empresas interessadas em substituir as desistentes. / COLABOROU RENÉE PEREIRA