Título: Operadoras de celular brigam pelo mercado de smartphones na classe C
Autor: Mendes, Karla
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2011, Negócios, p. B14

A TIM reduziu o preço do BlackBerry de olho nos consumidores de baixa renda; para analista, esse movimento mostra que os serviços de dados começam a dar mais retorno para as operadoras, mas a grande questão é o impacto na qualidade do serviço

As operadoras de telefonia celular estão voltando suas atenções para a popularização dos chamados smartphones, que são telefones com múltiplas funções e que permitem fácil acesso à internet. Elas estão de olho na classe C, que já comprou computadores e está presente nas redes sociais.

Um exemplo dessa tendência é a TIM, que lança hoje uma oferta do BlackBerry Curve 8520 por R$ 492, valor que pode ser parcelado em 12 vezes sem juros no cartão de crédito. "É o BlackBerry mais barato do Brasil. E é desbloqueado e sem fidelização", ressaltou Roger Solé, diretor de marketing da TIM. Antes dessa promoção, o aparelho era vendido por R$ 699.

Luis Minoru, diretor de consultoria da PromonLogicalis, apontou que as empresas têm realmente baixado os preços para ganhar mercado nos smartphones. "Isso mostra que a receita de comunicação de dados está compensando mais hoje que no passado, a ponto de compensar a redução do preço do aparelho."

Ele destacou que, apesar de ainda serem o principal canal de vendas de aparelhos, as operadoras dificilmente têm lucro na venda dos telefones, mesmo os desbloqueados e sem contrato de fidelização. "Essa queda de preços traz benefícios para a empresa e para o consumidor", disse Minoru. "A questão que fica no ar é o impacto desse crescimento na qualidade do serviço." Nas grandes cidades, o serviço de dados já mostra alguma instabilidade.

A oferta de smartphones mais baratos acontece num momento em que a disputa entre as operadoras baixa o preço do serviço de voz. Falar pelo celular ficou 44% mais barato nos últimos dois anos, segundo dados da consultoria Teleco, divulgados pela Telebrasil, associação das operadoras. Como consequência, o tempo que o usuário fala pelo telefone aumentou 42%.

De acordo com o levantamento da Teleco, o preço médio do minuto da telefonia móvel, com impostos, caiu de R$ 0,39 no fim do primeiro trimestre de 2009 para R$ 0,22 em março de 2011. No mesmo período, o índice que mede o tempo médio mensal de uso do celular subiu de 77 minutos para 110 minutos.

Mais barato. A redução do preço do BlackBerry é a segunda investida da TIM na popularização de smartphones. Há menos de um mês, a empresa passou a vender o iPhone 3GS por R$ 999. Com essa oferta, que reduziu o preço do celular em R$ 500, as vendas desse modelo de aparelho aumentaram 50 vezes.

Além da classe C, que tem ganhado poder aquisitivo nos últimos anos e conseguido concretizar o sonho de ter um smartphone, Solé explica que o foco dessas ofertas da TIM atingem também o público B e até a classe A, que não estavam dispostos a gastar cerca de R$ 2 mil para ter um aparelho. A estratégia da empresa, segundo o executivo, faz parte da mudança do modelo de negócio da companhia, que teve início há um ano e meio, desvinculando a venda de aparelhos dos planos de serviços.

Como consequência, os preços das assinaturas caíram 15% a 20%, em média, segundo Solé. "Foi uma estratégia arriscada, que mudou o modelo de negócio usado pelas empresas há mais de 10 anos de subsídios de aparelhos. Mas o cliente aceitou, pois viu que mesmo pagando por tudo, ficou mais barato", destacou.

As outras empresas também brigam por esse mercado. A Vivo lançou a campanha "meu primeiro smartphone", com ofertas de vários aparelhos. "Um smartphone não precisa custar R$ 2 mil", diz Daniel Cardoso, diretor de Marketing Móvel da Vivo. Mas a compra de celulares por esse preço está condicionada à contratação de uma linha de telefone.

A estratégia da Oi é a venda de aparelhos desbloqueados e desvinculados da linha de telefone. Desde o Dia das Mães, está vigente a oferta de smartphones em até 15 vezes sem juros.

A Claro também tem focado na popularização de smartphones. "A Claro trabalha para atender todos os públicos, marcando presença onde os nossos consumidores estão, seja em bairros de classe A, B ou C. Para o público da classe C, temos ofertas agressivas e uma diversidade de produtos e serviços", afirmou Soraia Tupinambá, diretora regional da Claro Centro-Oeste. / COLABOROU RENATO CRUZ