Título: Otan estende ataques à Líbia por mais 90 dias
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2011, Internacional, p. A11

O comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou ontem que suas operações militares na Líbia se estenderão até o fim de setembro. A decisão foi anunciada pelo secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, por meio de um comunicado oficial, após reunião em Bruxelas.

De acordo com Rasmussen, a decisão envia uma "clara mensagem" ao regime do ditador Muamar Kadafi. "A Otan, os nossos parceiros e toda a comunidade internacional estão ao lado do povo da Líbia", disse o secretário-geral. "Estamos decididos a continuar nossas operações para proteger a população civil. Manteremos nossos esforços para cumprir o mandato da ONU."

Rasmussen disse também que a Otan está determinada a garantir que o povo líbio possa determinar seu próprio futuro e afirmou que esse dia "está chegando". Em conversa com jornalistas, ele garantiu que a saída do ditador líbio é apenas uma questão de tempo. "A questão não é saber se Kadafi deixará ou não o governo, mas quando ele vai embora."

A aliança militar de 28 países assumiu, no fim de março, uma campanha de ataques aéreos que deveriam durar 90 dias. Os objetivos eram impor uma zona de exclusão aérea, um embargo de armas à Líbia e proteger os rebeldes civis dos ataques das forças de leais a Kadafi.

Nas últimas semanas, a Otan iniciou uma série de bombardeios que tinham como alvo as forças militares líbias e prédios públicos onde o ditador poderia estar escondido. Diplomatas e analistas reconhecem que é preciso dar um golpe decisivo em Kadafi. Do contrário, o conflito pode se estender ainda por vários meses.

Mediação. Na terça-feira, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, reuniu-se com Kadafi em Trípoli. Segundo ele, o líbio afirmou enfaticamente que não pretende deixar o poder, mas indica que está aberto a negociar um cessar-fogo. No entanto, Kadafi se recusa a conversar com os opositores, que tomaram a cidade de Benghazi.

Na prática, a posição de Kadafi torna impossível o fim negociado do conflito, já que os rebeldes e a Otan só aceitam um cessar-fogo caso o ditador deixe o poder.

Na terça-feira, surgiram novas dúvidas sobre quanto tempo Kadafi se sustentaria depois que Panos Moumtzis, coordenador humanitário da ONU para a Líbia, disse que a carência de alimentos e remédios em áreas controladas pelo ditador é uma "bomba-relógio".

"Não creio que haja fome ou desnutrição. No entanto, quanto mais o conflito dura, mais os estoques de comida se reduzem. É uma questão de semanas até o país chegar a uma situação crítica", disse.

"Os suprimentos são como uma bomba-relógio. No momento, estão sob controle. Mas, se isso ainda durar um bom tempo, se tornará um assunto sério."

Ataque. Um carro-bomba explodiu ontem perto de um dos principais hotéis de Benghazi. Jalal al-Gallal, porta-voz dos rebeldes, afirmou que não houve mortos nem feridos, mas responsabilizou simpatizantes de Kadafi pela autoria do atentado - o primeiro na capital dos dissidentes.

Após duas semanas desaparecido, Shukri Ghanem, ministro do Petróleo da Líbia, reapareceu ontem em Roma. Ele confirmou que abandonou o governo e agora apoia os rebeldes. Segundo ele, a infraestrutura petrolífera do país foi muito afetada pela guerra. / AP, REUTERS e EFE