Título: No bazar das armas, França abre o catálogo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2011, Internacional, p. A11

A ofensiva da Otan contra a Líbia é um esforço militar de 13 países - mas só a França, que liderou as operações na primeira fase, está assumidamente capitalizando o conflito para sua indústria de equipamentos militares. O ataque inicial foi feito pelos caças Rafale, finalistas nas escolhas bilionárias no Brasil e na Índia. Mísseis de cruzeiro de alta precisão, bombas inteligentes e, desde o início, sistemas eletrônicos de coleta de dados de inteligência e reconhecimento - o pacote está completo.

A cada sucesso do material, a associação dos fabricantes, com o apoio do Ministério da Defesa, trata de divulgar a façanha. No caso dos caças, outros dois finalistas na disputa pelo contrato brasileiro, de US$ 4 milhões a US$ 6 milhões, estão no cenário. Nada se sabe, porém, sobre o desempenho do americano F-18 Super Hornet ou do sueco Gripen.

A força de maior porte na Líbia, contudo, ainda é a americana. Todos os recursos do Mediterrâneo e do Golfo estão mobilizados e têm sido empregados de acordo com a exigência de cada ação. Voando desde a base aérea de Whiteman, no Missouri, os bombardeiros B-2 Spirit, de tecnologia furtiva - virtualmente invisíveis aos radares ou quaisquer outros sensores de detecção - permanecem até 22 horas no ar para despejar 22,5 toneladas de bombas contra instalações estratégicas próximas da capital Trípoli.

A Operação Harmattan - nome do vento do deserto do Saara que provoca tempestades de areia - criada por determinação direta do presidente Nicolas Sarkozy, resultou em uma enorme força expedicionária. Os franceses mantém no Norte da África 6 jatos KC-135 para reabastecimento de outras aeronaves em voo, 16 supersônicos Rafale, sendo 8 do tipo C, que decolam de pistas terrestres e 8 da versão M, embarcados no porta-aviões nuclear Charles De Gaulle.

Há ainda um grupo de 12 caças Mirage-2000 em configurações de ataque ao solo e interceptação. O apoio a esse time se dá por meio de quatro unidades de alerta avançado, vigilância e coleta de dados de inteligência, no ar 24 horas por dia. O porta-aviões transporta também um esquadrão de seis bombardeiros leves Super Etendard e oito helicópteros. A frota é completada por quatro fragatas e mais dois turboélices Hawkeyes de observação.

Na noite de 23 de março, a aviação francesa disparou oito mísseis de cruzeiro Scalp EG, sobre Al-Jufrah - foi o batismo de fogo desse novo arranjo da arma. Todos os alvos foram destruídos.

Com alcance na faixa de 400 quilômetros e 400 quilos de explosivos na ogiva, o Scalp custa cerca de 800mil. O sistema de armas é normalmente complementado por bombas guiadas AASM. Na noite de 16 de março, um Rafale lançou duas delas, dirigidas por laser. Atingiu dois tanques T-72, os alvos de estreia, a 50 quilômetros de distância.