Título: Setor de serviços é o que mais atrai investidores
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2011, Economia, p. B1

O setor de serviços brasileiro foi o que mais recebeu investimentos estrangeiros diretos (IED), aquele que em tese é voltado para a produção, no primeiro quadrimestre deste ano.

Segundo dados do Banco Central, o segmento foi alvo de 62,2% de todo o volume de IED que entrou no País. A indústria ficou com apenas 25,5%. No mesmo período de 2010, as participações dos dois grupos eram bem mais próximas: 41,7% para serviços e 35,7% para o segmento industrial.

Para o professor de economia e especialista em contas externas, Antônio Corrêa de Lacerda, a perda de espaço da indústria no total de IED este ano não espanta.

"A taxa de câmbio está pouco favorável para o investimento na indústria, especialmente no setor exportador", disse Lacerda. Segundo ele, o mercado interno do Brasil favorece um maior volume de recursos em serviços.

O professor salientou, entretanto, que está mais difícil analisar para onde efetivamente os investimentos estão indo.

Por causa das medidas de restrição ao capital de curto prazo impostas pelo governo, as empresas, segundo Lacerda, podem estar trazendo dinheiro de fora para fazer determinados tipos de investimento e acabar destinando os recursos para outros negócios.

"Às vezes o investimento passa por duas ou três etapas. É algo que merece atenção cuidadosa", disse Lacerda. "Isso tem acontecido muito, especialmente depois do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), mas é difícil dizer se esse recurso está indo para investimentos especulativos".

Desconfiança. O diretor de pesquisa da associação Brain, André Sacconato, avalia que o aumento forte do IED para serviços este ano amplia a desconfiança de que essa rubrica esteja sendo usada em parte para driblar o imposto de 6% que é cobrado sobre capital de curto prazo.

De qualquer forma, Sacconato considera que a tendência natural dos países é migrar para uma economia que atraia mais investimento para o setor de serviços. "A tendência de se priorizar serviços é inexorável, veio para ficar", disse.

No caso da indústria, o economista da Brain explica que a combinação de câmbio valorizado, salários em elevação e a existência de ainda graves problemas de infraestrutura tornam menos atrativos os investimentos no setor.