Título: Fazenda orgânica de brotos de feijão na Alemanha seria a origem de E. coli
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2011, Vida, p. A21

Após 6 semanas de mistério em torno do surto da bactéria, que matou 31 pessoas e infectou cerca de 3 mil em 12 países europeus, autoridades sanitárias alemãs chegam a plantação no norte do país que forneceu vegetal para restaurantes

Após seis semanas do início do surto de uma cepa agressiva da bactéria E. coli que matou 31 pessoas e infectou cerca de 3 mil em 12 países, autoridades sanitárias da Alemanha afirmam ter determinado que os patógenos estavam originalmente em brotos de feijão cultivados numa fazenda orgânica no distrito de Uelzen, no norte do país.

A descoberta é de cientistas no Estado da Renânia do Norte-Westfália. A comprovação final, porém, ainda está sendo feita. E não está claro como a perigosa bactéria foi parar na fazenda.

"São os brotos de feijão", disse ontem Reinhard Burger, presidente do Instituto Robert Koch (RKI), centro de controle de doenças da Alemanha. "Testes tornaram possível isolar a fonte do surto, com alta probabilidade."

Antes, os alemães acusaram pepinos do sul da Espanha, o que gerou prejuízos e disputa pelo pagamento de indenização. Agora, a advertência contra comer pepinos, tomates e alfaces crus foi retirada. Recomenda-se a famílias e empresas que fornecem comida que destruam todos os brotos de feijão e outros alimentos que tenham entrado em contato com eles. As regras de higiene seguem sendo reforçadas.

O ministro da Agricultura da Baixa Saxônia, Gert Lindemann, proibiu a fazenda de colocar mais legumes no mercado. Segundo ele, alfafa, feijão-da-china, rabanete e rúcula produzidas no local também tinham E. coli.

Pistas. Durante semanas, muitos consumidores evitaram comer pepino, tomate e alface após os primeiros testes do RKI mostrarem que pacientes com E. coli haviam consumido esses vegetais com frequência maior que pessoas saudáveis.

Pesquisa com pacientes que aparentemente haviam sido infectados em certos refeitórios mostraram que eles tinham ido ao bufê de saladas com mais frequência que os não infectados.

Os conjuntos de casos que podem ser associados a um evento específico deram pistas importantes. Foi o caso de uma fazenda orgânica na Baixa Saxônia, acusada no fim de semana passado e depois inocentada.

Em todos os principais surtos de E. coli na Alemanha nos últimos dias, brotos de feijão haviam sido entregues a restaurantes onde pessoas que lá comeram adoeceram depois. Entre esses estabelecimentos estava um hotel de golfe no distrito de Lüneburg, onde 11 de 30 membros de um grupo de turismo sueco, além de 1 dinamarquês, caíram doentes. Outros refeitórios e hotéis também foram atingidos.

Os resultados mostraram que em um caso com 112 participantes, os que tinham comido brotos de feijão mostraram probabilidade 8,6 vezes maior de contrair a bactéria. Na Alemanha, cerca de 30% dos infectados desenvolveram uma doença mais grave, a síndrome hemolítico-urêmica, que afeta o sistema nervoso, os rins e o sangue. / DER SPIEGEL, com AP e REUTERS

Ameaça

400 fazendas foram investigadas pelas autoridades alemãs apenas na região da Baixa Saxônia

100 mil vezes é quanto a bactéria "E. coli", que adere à superfície das sementes de feijão - onde pode ficar dormente por meses -, é capaz de se reproduzir após água ser adicionada.

PARA LEMBRAR

País foi atacado após alertas

No início da semana, a União Europeia criticou a Alemanha pelos alertas em relação à bactéria, especialmente por ter acusado erroneamente o pepino produzido no sul da Espanha. O prejuízo causado pelo pânico incutido nos consumidores, que pararam de comprar o legume, gerou uma guerra pelo valor das compensações.

A UE ofereceu 150 milhões (R$ 344 milhões) pelas perdas dos agricultores, mas a Espanha e outros países defendem um valor maior, que reponha pelo menos 90% das perdas, que ultrapassaram R$ 1 bilhão.

O comissário de Saúde do bloco, John Dalli, advertiu a Alemanha a não fazer mais alertas até que encontrasse a origem da bactéria.