Título: Inovação vira estratégia para sobreviver
Autor: Rehder , Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2011, Economia, p. B1

Prejudicadas na concorrência com os produtos importados, empresas investem em inovação para tentar reconquistar mercados

Até 2004, quando exportava 30% de tudo que produzia no Brasil, a Bitzer Compressores, empresa de capital alemão, investia de 8% a 12% do seu faturamento no País. Hoje, esse número caiu para algo como 2,5%.

A Bitzer é uma espécie de mico-leão-dourado no Hemisfério Sul: é o único fabricante de compressores para refrigeração comercial e industrial existente na região. Além disso, ainda tem a vantagem de poder apertar um botão para passar a ter o último compressor projetado na Alemanha. Mesmo assim, a Bitzer está "remando para sobreviver", nas palavras do seu presidente, Fernando Bueno.

Sob os efeitos da sobrevalorização do real ante o dólar e do chamado Custo Brasil, as exportações da empresa reduziram-se a apenas 6,5% do faturamento. "Estou fazendo quase a custo de material e ainda está decrescente", diz Bueno. "Seguramos o Mercosul, mas o resto realmente se perdeu", acrescenta.

No mercado interno, a Bitzer enfrenta a mesma concorrência direta, formada basicamente por empresas americanas e europeias. O problema é que, para sobreviver, os seus clientes, fabricantes de grandes máquinas de refrigeração, que faziam 80% das vendas com produtos nacionais, agora fazem só 60%. Parte deles passou a importar todo o sistema e agora só fornece assistência técnica e a montagem do equipamento no Brasil.

"Eu não dependo mais só da minha competitividade", diz o executivo. "Se o meu cliente não for competitivo, eu não faço o compressor e os meus fornecedores de aço, fundidos, vedação e rolamento também vão para o vinagre."

As dificuldades enfrentadas pelo fabricante de compressores, que acabam se refletindo nas decisões de investimento, são comuns a boa parte da indústria de transformação brasileira.

"As preocupações só não existem para quem não faz o mínimo de reflexão sobre o impacto do dólar a R$ 1,58, as dificuldades de se produzir no Brasil e as facilidades de produzir na Ásia", diz o presidente da fabricante de utilidades domésticas Plasútil, Marco Antonio Pereira da Silva.

A empresa vai concluir no segundo semestre de 2011 um projeto de investimento trienal no valor total de R$ 50 milhões, para construção de uma nova fábrica em Bauru, interior paulista.

"Esse investimento é mais voltado para a inovação do que para o aumento de capacidade produtiva", afirma Silva. "O objetivo é inovar e diferenciar para poder competir com os importados", acrescenta. Hoje, segundo ele, mais de 50% dos produtos de qualquer bazar em supermercados já são importados..

Para o consultor Valter Peracciani, autor do livro Usina de Inovações e sócio-diretor da Peracciani Desenvolvimento de Empresas, está havendo uma mudança de percepção dos empresários em relação ao tema inovação. "Eles começam a entender que somente inovando conseguirão ampliar as vendas."

Os resultados, segundo o consultor, impressionam. Ele conta que fez uma análise comparativa dos lançamentos das montadoras de automóveis com as curvas de vendas nos últimos dez anos. "A correlação entre o índice de inovação e o aumento absoluto das vendas ficou acima de 0,96. Elas são primas-irmãs e andam juntas, de mãos dadas."

Investimentos. Levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que os investimentos em inovação devem ser os únicos a apresentar expansão este ano, de 16,6%, atingindo R$ 20,3 bilhões.

Investir em inovação passou a ser visto como tábua de salvação por um número crescente de industriais. "Para sobreviver, torna-se necessário diferenciar produtos, seja em termos de qualidade ou criando produtos novos capazes de reduzir os custos de produção", afirma o diretor do departamento de competividade e tecnologia da Fiesp, Ricardo Roriz Coelho.

Ele espera que a nova política industrial do governo Dilma Rousseff, que deve ser lançada em breve, seja mais agressiva que a Política de Desenvolvimento Produtivo da administração Lula. "Para enfrentar a concorrência internacional, temos de dar um tiro de canhão", diz Roriz. "De nada vai adiantar um tiro de chumbinho com ações requentadas e de difícil operacionalização."