Título: Expectativa de produção e vendas cai e mercado já revê previsões para o PIB
Autor: Rehder , Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2011, Economia, p. B1

Projeções para o crescimento da economia este ano recuam para até 3,4% e indústria e comércio já esperam redução no ritmo da atividade

As projeções de crescimento da economia brasileira para este ano foram reduzidas em até meio ponto porcentual pelo mercado. Há consultorias que esperam aumento de 3,4% para o Produto Interno Bruto (PIB), mais de um ponto abaixo do projetado pelo governo, que é de 4,5%.

Os empresários da indústria e do comércio também cortaram as expectativas de produção e vendas para o ano, diante do acúmulo de estoques em seus armazéns. A mudança de prognóstico está muito longe de ser uma freada brusca no ritmo de atividade, mas indica uma moderação do crescimento.

Os distribuidores de aço, por exemplo, encerraram maio com estoques equivalentes a 3,8 meses de vendas, um mês acima do normal, segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Os distribuidores respondem por 30% do mercado de aço plano, usado pela indústria automobilística, de eletrodomésticos e a construção civil.

"Estamos sentindo o desaquecimento. Os fabricantes de autopeças, de máquinas e as construtoras estão comprando menos aço", conta o presidente do Inda, Carlos Jorge Loureiro. Pelo segundo mês seguido, a média diária de vendas em maio recuou na comparação com o mês anterior. De março para abril, a queda foi de 4,2% e de abril para maio, de 13,7%.

Loureiro atribui a retração ao aumento da importação de produtos acabados e às medidas de aperto do crédito editadas pelo governo no fim do ano passado. Por causa dessa queda, houve reversão nas expectativas de crescimento de vendas para o ano, de 15% para 10%. "Mas estou com dificuldade de acreditar nessa nova previsão", pondera.

Outro setor que acumula hoje estoques acima do normal é o automotivo, mesmo batendo recordes de produção e vendas. Entre janeiro e maio, o volume de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus espalhados entre fábricas e revendas era equivalente 31,4 dias de vendas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Normalmente, o estoque médio mensal varia entre 25 a 27 dias de vendas.

"A economia murchou e o desempenho do PIB do primeiro trimestre mostra isso", afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Segundo ele, foi exatamente esse estoque que escondeu a desaceleração. Expurgado o estoque, o PIB cresceu 0,7% no primeiro trimestre em relação ao último de 2010, já descontados os efeitos sazonais. Já o crescimento do PIB com os estoques foi de 1,3% no primeiro trimestre.

Borges argumenta que o principal fator para a desaceleração, refletida no acúmulo de estoques, foi a perda do dinamismo da demanda interna. A demanda interna, que reúne o consumo das famílias, do governo e os investimentos, cresceu 0,8% no primeiro trimestre ante o último de 2010. Foi a menor taxa desde o primeiro trimestre de 2009 em relação ao trimestre imediatamente anterior, quando tinha caído 1,2%.

Sinais. Outro sinal de moderação nas expectativas de crescimento para este ano foi dado pelos fabricantes de embalagens. A indústria de papelão ondulado reduziu de 5% para 3,5% a previsão de produção e vendas para 2011, pois é um setor que trabalha com pedidos sob encomenda e não tem estoques.

"Crescer 3,5% não é ruim, mas está aquém do que imaginávamos no fim do ano passado", diz o presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini. O setor encerrou 2010 com alta de 12% nas vendas, um dos melhores desempenhos dos últimos tempos.

Trombini conta que as encomendas, especialmente da indústria de eletrodomésticos e eletrônicos, produtos cuja venda é movida a crédito, diminuíram depois que o governo começou a elevar o juro e encarecer os financiamentos a partir de janeiro.

Estatísticas da ABPO mostram que, de janeiro a abril, foram vendidas 808,9 mil toneladas de papelão ondulado, um volume 0,08% menor que o comercializado em igual período de 2010. De março para a abril, a queda foi de 5,91%.

"Está havendo desaquecimento, mas ainda não há consenso", pondera o sócio da consultoria Tendências, Juan Jansen, responsável pelo índice da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), que mede o movimento de veículos nas estradas.

Em maio, o indicador caiu 1,4% na comparação com abril, descontadas as influências típicas do mês. O resultado foi influenciado pelo fluxo de veículos leves, que caiu 3,5% no período. Já o movimento de veículos pesados nas estradas aumentou 1,3% por causa da safra agrícola.

"A tendência do fluxo nas estradas é de desaceleração", diz o economista. De janeiro a maio deste ano, o fluxo de veículos leves caiu 0,3% a cada mês, enquanto no mesmo período do ano passado crescia 0,8% mensalmente. No caso dos veículos pesados, o sinal é positivo, mas há desaceleração. De janeiro a maio houve um crescimento mensal de 0,4%, ante 0,9% ao mês no mesmo período de 2010.