Título: Tombo da indústria reflete arrefecimento do consumo
Autor: Rehder , Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2011, Economia, p. B1

Greves das montadoras e menor ritmo de produção devem afetar a atividade industrial no segundo trimestre deste ano

O tombo da produção industrial de março para abril de 2,1%, confirmado pelo acúmulo de estoques, levou as consultorias a cortarem as projeções de crescimento da economia para este ano. A RC Consultores, por exemplo, reduziu de 3,8% para 3,5% a projeção de crescimento do PIB. A MB cortou de 4,5% para 4,2% e Rosenberg, de 4,5% para 4%.

"A indústria está mostrando um comportamento aquém do esperado", diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Segundo ele, o recuo da indústria deve continuar neste mês, influenciado pelas greves nas montadoras e também pela desaceleração da renda real, que diminui o poder de consumo da população.

Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, ressalta que o elevado nível de endividamento das famílias e a alta das taxas de juros reduziram o ímpeto de consumo. "Parte das famílias já não tem o mesmo fôlego de meses atrás para ir às compras." Ele observa que a inadimplência do consumidor entre 15 e 90 dias subiu e voltou para o nível de 2007. Ele pondera que não se trata de algo explosivo, mas esse nível de calote exige cautela e reduz o impulso para novas compras.

Foi exatamente isso que o comércio já sentiu. Depois do Dia das Mães, a segunda melhor data de vendas para o varejo depois do Natal, os varejistas tiveram de ajustar a projeção de vendas para níveis compatíveis com a nova realidade. "A venda mudou de patamar", afirma um executivo que prefere o anonimato. Até o Dia das Mães, as vendas da sua empresa cresciam a uma taxa de 20% na comparação anual. Agora o acréscimo é de 10%.

Para adequar os estoques às vendas, outro varejista conta que reduziu os pedidos às indústrias e passou a repor só as quantidades vendidas.

Hora extra. Por enquanto, o ajuste de produção da indústria ao menor ritmo de vendas do comércio será feito com redução de horas extras, diz um empresário do setor industrial.

De fato, os últimos resultados da sondagem industrial da Fundação Getúlio Vargas mostram que a perspectiva para o emprego até julho se mantém, sem demissões significativas.