Título: Sede da Petrobrás em Vitória custará 6,4 vezes mais do que o previsto
Autor: Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2011, Economia, p. B12

Orçada em R$ 90 milhões em 2005, a sede regional já consumiu R$ 580 milhões e terá vidros belgas e persianas italianas e francesas A futura sede da Petrobrás em Vitória, no Espírito Santo, custará pelo menos 6,4 vezes mais do que o anunciado. Orçada em 2005 em R$ 90 milhões, a sede, a ser inaugurada este ano, já consumiu R$ 580 milhões - 544% mais do que o valor previsto.

Os gastos com a mais luxuosa de suas instalações coincidem com o anúncio, em breve, do novo plano de negócios da Petrobrás, que deverá limitar os investimentos até 2015, para conter gastos.

Mantido o atual orçamento, a sede terá custado quase R$ 250 milhões a mais do que o aeroporto da cidade, cujas obras o Tribunal de Contas da União interrompeu, por indícios de superfaturamento. O aeroporto custará R$ 337 milhões.

A sede da Petrobrás ocupa terreno de 101 mil metros quadrados na Reta da Penha. Quem passa ali rumo ao centro avista os prédios sobre uma colina à esquerda. São duas torres ligadas por um prédio central e construções anexas laterais.

Projeto. O projeto do arquiteto Sidonio Porto venceu em 2005 concurso promovido pela Petrobrás e pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil. Os participantes tinham de limitar os projetos a especificações predefinidas, como o uso máximo de 45 mil metros quadrados de área construída.

Hoje, placa em frente à obra informa que a área construída será de 91.336,58 metros quadrados, o dobro do planejado em 2005. Assim, a ideia de a sede funcionar em um cinturão verde não se concretizará, por falta de espaço.

Se mantida a área construída inicial, ao preço de hoje a sede teria o maior valor do metro quadrado do Espírito Santo: R$ 12 mil. Segundo o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado, Ary Bastos, não há similar na região. A área mais valorizada de Vitória é a Enseada do Suá, onde o metro quadrado chega a R$ 10 mil.

Com a metragem da placa, o metro quadrado do terreno da Petrobrás desce para R$ 6.350, ainda assim bem mais do que o máximo do bairro, estimado pelo sindicato em R$ 5 mil.

Construída pelas empresas Odebrecht, Camargo Corrêa e Hochtief, a sede deveria ter sido inaugurada em 2009. O representante do consórcio não quis comentar sobre a obra, que até o ano passado custaria R$ 486 milhões. Em 2010, o valor subiu para R$ 580 milhões.

Aquecimento solar. A Petrobrás informou que "o valor inicial de R$ 90 milhões foi usado como parâmetro básico para a realização do concurso".

A empresa enumerou fatores que podem ter contribuído para a elevação dos custos, como "sistema digital de iluminação" e "aquecimento solar de água". Fala ainda que a obra "contempla a aplicação das últimas tecnologias em equipamentos e sistemas voltados para a ecoeficiência do projeto".

"Esses requisitos são utilizados pela Petrobrás em suas construções, seguindo as diretrizes de responsabilidade socioambiental", informa a companhia em uma nota.

Os vidros verdes vieram da Bélgica. As persianas da Itália e França. Segundo a Petrobrás, os vidros propiciam baixa absorção de calor e reduzem o uso do ar condicionado, o que reduzirá os consumos de energia e água, manutenção e conservação das instalações, segurança e serviços de comunicação.

"O projeto da nova sede foi o vencedor do maior concurso público do gênero realizado no País", conclui a Petrobrás na nota divulgada à imprensa.