Título: Como se o Vale do Silício fosse aqui
Autor: Cruz , Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2011, Economia, p. B14

Alto crescimento de empresas brasileiras de tecnologia atrai investidores globais

Até parece 1999. O mercado brasileiro de tecnologia passa por uma fase de corrida do ouro que não se via desde a formação da primeira bolha da internet, há mais de uma década. Investidores estrangeiros aportam recursos em empresas locais para aproveitar o crescimento rápido do mercado e do País. A ideia de que estar por aqui é obrigatório não se restringe às commodities.

Na quarta-feira, Peter Van Camp e Mark Adams, da americana Equinix, e Francisco Alvarez-Demalde, da Riverwood Capital, participaram da inauguração do terceiro data center da brasileira Alog, em Tamboré, região metropolitana de São Paulo. Em fevereiro, a Equinix e a Riverwood compraram 90% da Alog por US$ 126 milhões.

"Queremos ser uma plataforma global e existe um ótima base de clientes por aqui", diz Peter Van Camp, presidente do conselho da Equinix, que tem 95 data centers ao redor do mundo. Segundo o executivo, existe uma demanda dos clientes globais da companhia de serem atendidos também no Brasil.

"As empresas brasileiras também estão se tornando multinacionais", afirma Sidney Breyer, presidente da Alog, apontando a necessidade de fazer parte de um grupo maior. No ano passado, a Alog havia faturado R$ 105,6 milhões, um crescimento de 30% sobre 2009.

Breyer conta que, desde o ano passado, a Alog vinha sendo abordada por vários interessados em investir. "Decidimos aceitar a proposta da Equinix e da Riverwood não somente por causa do dinheiro, mas pelo acesso ao conhecimento de mercado e à tecnologia", explica Breyer. Segundo os executivos da Equinix, cerca de 80% do tráfego da internet americana passam pela infraestrutura da empresa.

Francisco Alvarez-Demalde, sócio da Riverwood Capital, diz que a América Latina é uma região muito importante para sua empresa de private equity. "No ano passado resolvemos investir em data centers e o Brasil é o maior mercado", explica Alvarez-Demalde. "Ficamos animados com a possibilidade de investir na Alog."

Sobre novos investimentos no País, o sócio da Riverwood não parece tão animado. "Sempre buscamos oportunidades, mas isso leva tempo", diz o investidor. "Somos conservadores e pacientes. O mercado brasileiro está muito aquecido e os valores estão altos."

Isso quer dizer que o País está caro demais? "Do hotel e do táxi até as empresas", responde Alvarez-Demalde. "Mas tudo depende da oportunidade. Esses preços refletem o potencial de crescimento."

Segundo o Ibope Nielsen, no fim de 2010 havia no País 73,9 milhões de usuários de internet com 16 anos ou mais. No ano passado, o varejo online faturou R$ 14,8 bilhões no País, de acordo com a consultoria e-bit, que projeta um crescimento de 30% para este ano, chegando a R$ 20 bilhões.

Gargalos. "O Brasil tem se beneficiado marginalmente do investimento que está se deslocando pelo mundo", diz Antônio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. "Se o País tivesse mais competitividade, poderia abocanhar uma parcela maior."

Segundo Lacerda, a maior parte do investimento estrangeiro ainda vem para setores tradicionais, como commodities e energia. "Estaríamos muito melhor se houvesse uma política de atração de investimentos para alta tecnologia", destaca Lacerda. "Ainda é o investidor que nos descobre. Países como a China e a Índia têm políticas para atrair o investidor, já que o risco no setor de alta tecnologia é muito maior."

Segundo projeção da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o Brasil deve atrair US$ 65 bilhões em investimentos diretos estrangeiros este ano, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da China.

O ViajaNet, agência de viagens online, recebeu, na semana passada, um aporte de US$ 19 milhões dos fundos americanos Redpoint Ventures e General Catalyst. "Os fundos americanos estão vindo para o Brasil com grande frequência", diz Alex Todres, fundador da empresa. "O mercado está a nosso favor."

Para Pueo Keffer, diretor da RedPoint, o mercado brasileiro de internet ainda está num estágio inicial: "Estamos vendo um crescimento massivo em plataformas de mídias sociais como Facebook, Twitter e Orkut. Estamos muito animados para investir em companhias inovadoras nessa categoria."

Há dois meses, o grupo francês LeadMedia passou a ter 75% do site brasileiro Busca Descontos. Na primeira rodada de investimentos, no ano passado, a LeadMedia havia comprado 51% da empresa por 300 mil.

"Em 2009, a empresa era eu sozinho", conta Pedro Eugênio, fundador do Busca Descontos. "No ano passado, antes de receber o investimento, éramos duas pessoas e hoje somos 20. O investimento trouxe estrutura financeira que precisávamos para crescer."