Título: Inflação e aperto no crédito elevam calote em 20%
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2011, Economia, p. B5

De janeiro a maio deste ano, indicador de inadimplência calculado pela Serasa Experian registra a maior taxa acumulada do período desde 2002

O avanço da inflação e as medidas do governo para restringir a oferta de crédito turbinaram os atrasos no pagamento de dívidas assumidas pelo consumidor brasileiro. De janeiro a maio de 2011, o indicador de inadimplência calculado pela Serasa Experian acumulou alta de 20,6%. É a maior taxa registrada no período depois de 2002, quando o calote cresceu 29%, impulsionado pelos efeitos da recessão provocada pelo apagão de energia elétrica de 2001.

Só no mês passado, a inadimplência deu um salto de 8,2% na comparação com abril, o que representou a maior alta mensal desde março de 2010. Em relação a maio do ano passado, o acréscimo do calote foi de 21,7%.

São diversas as razões que levam as pessoas a não pagar em dia as suas dívidas. De forma geral, os atrasos refletem desequilíbrio entre o gasto e a renda das famílias, diz o gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Este ano, passado o pico de febre do crédito fácil, o descontrole dos orçamentos familiares foi favorecido pela conjugação de fatores como a escalada da inflação (não acompanhada da renda mensal), o aumento dos juros e o encurtamento dos prazos de pagamento.

A questão é que as medidas de restrição ao crédito para controle da inflação, tomadas pelo governo desde o fim do ano passado, afetaram principalmente a classe C, que depende de prazo mais longo para acomodar as prestações no salário.

"É bem provável que o aumento da inadimplência esteja sendo provocado pela participação maior de consumidores de renda baixa", diz Rabi. "Até porque o consumidor de renda mais alta geralmente tem alguma reserva financeira que pode ser usada em momentos de descontrole e inflação mais alta."

Faz sentido. Segundo o indicador de qualidade crédito da Serasa, a possibilidade de uma pessoa que ganha até R$ 1 mil se tornar inadimplente é três a quatro vezes maior que a de quem ganha R$ 10 mil.

O indicador Serasa de inadimplência mostra que o calote em maio foi puxado pelas dívidas vencidas com os bancos, que aumentaram 9,7% sobre o mês anterior. Com peso de 46,7% na composição do indicador, esses atrasos foram responsáveis por 4,5 pontos porcentuais de alta no indicador de inadimplência.

Outro fator de pressão foi o atraso em dívidas não bancárias (cartões de crédito, financeiras, crediários de lojas e contas de telefone e de energia elétrica, entre outros), que cresceu 5,1% em relação a abril (contribuição de 2 pontos porcentuais na variação total).

Os títulos protestados cresceram 20,7%, mas representaram só 0,3 ponto no índice geral, enquanto os cheques devolvidos aumentaram 11,5% (1,3 ponto no total).