Título: BC nega desvio de investimento produtivo para a especulação
Autor: Otta, Lu Aiko; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2011, Economia, p. B4

Dirigente do Banco Central diz a deputados que foram checadas operações de mais de US$ 100 milhões

O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA

O Banco Central negou ontem a possibilidade de estar havendo desvio dos dólares que ingressam no País como investimento no setor produtivo para o mercado especulativo. "Não identificamos esse movimento de usar investimento estrangeiro direto para investimentos em portfólio", disse o gerente executivo de Normatização de Câmbio e Capitais Estrangeiros do Banco Central, Geraldo Magela Siqueira, em audiência pública na Câmara dos Deputados que discutiu o problema do câmbio.

Ele contou que os técnicos checaram as grandes operações de ingresso de recursos, que constituem três quartos do total recebido pelo País, composto por operações de valor superior a US$ 100 milhões. "Eram todos direcionados à economia real", afirmou. Magela citou como exemplos de destino desses investimentos o pré-sal, a infraestrutura e telecomunicações.

O Investimento Estrangeiro Direto (IED) é isento de taxação, enquanto os ingressos para aplicações financeiras de curto prazo em renda fixa pagam Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%.

A alíquota foi elevada como uma forma de amenizar a avalanche de dólares que chegam ao País para aplicações especulativas. Em março, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, admitiu que é impossível saber o destino dos dólares depois que eles são convertidos em real.

Nos bastidores, o próprio governo suspeita que haja desvios e já encomendou estudos a respeito. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para o problema.

"Para mim (há) números suspeitos do IED", disse Olivier Blanchard, economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, em seminário realizado há duas semanas no Rio. Ele acrescentou que poderia ser o caso de o Brasil adotar medidas de controle de capital nessa área.

Questão ideológica. No mesmo evento, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcio Holland, defendeu a elevação do IOF sobre capital estrangeiro. Ele citou uma afirmação de Blanchard, do FMI, para quem o controle de capital não deve ser encarado como uma questão ideológica.

Segundo o secretário, o aumento do IOF ajuda a evitar a formação de bolhas especulativas no Brasil. "O que os EUA não fizeram de 2003 a 2007 serviu de lição para todo o mundo. O excesso de liberdade nos capitais financeiros gerou bolhas e os Bancos Centrais diziam que nada podiam fazer, nem sequer conseguiam identificar bolhas."

Aos deputados que estavam preocupados com a situação do câmbio, Holland afirmou que a tendência é a situação melhorar a partir do segundo semestre, quando a Europa deverá elevar a taxa de juros. O velho continente deverá ser seguido pelos Estados Unidos em meados de 2012.