Título: Inflação: melhora no curto prazo é pontual
Autor: Amorim, Daniela; Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2011, Economia, p. B1

O Estado de S.Paulo

O IPCA de maio registrou variação de 0,47%, desacelerando em relação ao IPCA-15 do mês (0,70%) e ao IPCA de abril (0,77%), em linha com a mediana das expectativas de mercado. Com isso, a inflação oficial acumula alta de 6,55% em 12 meses, acelerando em relação aos 12 meses encerrados em abril (6,51%), sendo a mais elevada variação nessa base desde julho de 2005.

O recuo da inflação na margem partiu principalmente do grupo transportes (-0,24% ante 0,93% no IPCA-15 do mês), sob influência da deflação do álcool (-11,34% ante 0,01%) e desaceleração da gasolina (0,85% ante 5,30%). Além disso, os preços administrados reduziram-se significativamente (0,55% ante 1,22%), com a saída de reajustes importantes, como os de medicamentos, energia elétrica e cigarros.

Apesar da queda da taxa inflação, o resultado de maio não foi tão favorável como pode parecer à primeira vista, dada a piora na margem da média dos núcleos (0,59% ante 0,56%), que tentam expurgar oscilações sazonais e pontuais típicas dos índices de inflação. Além disso, o índice de difusão - que mede o porcentual de itens do indicador que mostraram alta de preços - segue elevado (64,84%), tendo piorado na margem também.

Destaca-se que o quadro de maio - núcleos acima da inflação cheia - deve se intensificar em junho e julho. De fato, nesses meses deve haver forte arrefecimento das taxas de inflação, que devem, inclusive, se aproximar de 0% em junho.

Todavia, tal perspectiva reforça nosso entendimento de que a melhora no cenário de inflação no curto prazo será pontual, uma vez que está sendo influenciada em grande medida pela devolução de alguns choques específicos de oferta, notadamente os combustíveis e os alimentos in natura. Isso é corroborado pelos cálculos dos núcleos de inflação do IPCA, que apontam alta nas medidas que desconsideram esses itens.

Dessa forma, as baixas taxas de inflação que devem ser observadas nos próximos meses, apesar de proporcionarem algum alívio para o cenário inflacionário, não podem ser ainda creditadas ao aperto monetário em curso, nem podem ser consideradas resultado de uma mudança estrutural no cenário para o ano. A melhora nesses meses vai refletir, na verdade, devoluções pontuais de choques de oferta, e será resultado imediato da sazonalidade típica do IPCA. Após esse período, contudo, a inflação deve voltar a causar preocupação, sendo imperativo a não-interrupção das políticas de combate à inflação.

THIAGO CURADO É ANALISTA DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA INTEGRADA.