Título: Com 25% do IPCA, vilão da inflação é o transporte
Autor: Amorim, Daniela; Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2011, Economia, p. B1

O Estado de S.Paulo

RIO

Apesar da queda nos preços dos combustíveis, o grupo transportes ainda responde por boa parte da inflação no ano. Embora a queda na inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tenha sido puxada por preços mais baratos da gasolina e do etanol, os transportes ainda são responsáveis por uma fatia de 25% da inflação em 2011. De janeiro a maio, o IPCA acumula alta de 3,71%.

"Junto com alimentação, o grupo explica metade do resultado do IPCA no ano. É onde nós gastamos mais dinheiro mesmo", explicou a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. "Em 12 meses, os grupos alimentação e transportes são responsáveis por 45% da alta (de 6,55%) do IPCA."

Eulina ressalta que, apesar da queda no álcool e na gasolina, os combustíveis ainda estão num nível elevado. A gasolina acumula alta de 10,51% no ano. Em 12 meses, o combustível aparece em segundo lugar entre os maiores impactos do IPCA, com uma variação de 12,62%. Só perdeu para o item refeição fora de casa, que vem subindo continuamente.

Luiz Roberto Cunha conta que a refeição fora de casa foi o que impulsionou a alta no grupo alimentação e bebidas em maio. "A refeição fora de casa saiu de uma alta de 0,30% no IPCA-15 para 0,91% no IPCA de maio. Mas não foi generalizada, foi centrada no cafezinho em São Paulo e em algo no Nordeste. Não é tendência nem algo que preocupe", afirmou Cunha.

Também ficaram mais caros o tomate e o leite pasteurizado. Por outro lado, registraram queda nos preços o frango inteiro, ovos e feijão preto. "O tomate voltou a apresentar pressão, devido a problemas de clima", disse Eulina. "As carnes, apesar de não terem tido um aumento expressivo, tinham registrado queda em abril, então exercem influência na taxa."

IGP-DI. O economista da FGV, Andre Braz, acredita que o cenário de matérias-primas brutas agropecuárias mais baratas, mostrado pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), acabará por influenciar para baixo, nos próximos meses, os preços dos alimentos para o consumidor.

Além disso, os próximos indicadores do varejo devem ser beneficiados pela melhor oferta de cana-de-açúcar, que deve derrubar ainda mais o preço do álcool no atacado e da gasolina. "Temos explicações demais para contextualizar a possibilidade de continuidade na desaceleração dos índices de varejo, e ela deve ser mais persistente no próximo trimestre", afirmou Braz.

No entanto, ele ressalva que a demanda continua alta no mercado interno. Embora a expectativa seja de taxas de inflação menos intensas nos próximos meses, segundo ele o avanço nos preços dos serviços livres no varejo é persistente.

Em maio, estes serviços subiram 7,07%, acima da média da inflação varejista medida pelo IPC-DI para o mês (6,37%). "Esta parte de serviços é o nosso maior desafio pela frente, no combate à inflação. Não dá para virar as costas para isso", disse o economista da FGV.

Inês Filipa, da Icap Brasil, concorda sobre a pressão do setor de serviços, que deve ser maior após agosto, puxada pelas negociações salariais.

"É possível que haja uma retomada da inflação a partir de setembro, acima de 0,40%. É quando tem a entrada do 13.º salário dos aposentados, a demanda aumenta, e o quarto trimestre ainda é um período maior de compras", explicou Inês.