Título: Sarkozy propõe pacote contra alta de alimentos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2011, Economia, p. B8

Proposta da França ao G-20 é considerada ''razoável'' pelo Brasil, mas tema dos subsídios fica de fora e deve ser levado por ministro brasileiro a reunião

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, apresentou ontem ao G-20 (grupo dos 20 países mais ricos) um pacote de medidas para regular o setor de alimentos, incluindo controles extras para impedir que especuladores elevem ainda mais os preços de commodities e uma espécie de estoque mundial para evitar a flutuação nos preços.

Falando em Bruxelas, Sarkozy comparou especuladores a mafiosos. Mas admitiu que ainda sofre resistências do Brasil, Argentina e outros exportadores agrícolas do G-20. O pacote francês não incluiu, entretanto, menção aos subsídios concedidos aos agricultores do país.

No próximo dia 22, os ministros da Agricultura do G-20 se reúnem para debater o projeto. "Uma das principais ameaças ao crescimento é o aumento nos custos de commodities", disse o presidente francês. "Não podemos deixar isso ocorrer. Um mercado sem regras não é mais um mercado."

Um dos pontos principais de seu projeto é regular o mercado, proposta rejeitada pelos emergentes e pelo Brasil. Na Europa, a posição tem sido vista como egoísta, já que apenas os exportadores ganham com a alta.

Sarkozy também quer limitar a influência do mercado financeiro no mercado agrícola. A primeira medida proposta pela França, que preside o G-20, será exigir que os especuladores façam depósitos em todos os contratos de derivativos.

"Razoáveis". O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, considerou "razoáveis" as propostas da França. As medidas, que incluem o polêmico controle de instrumentos do mercado financeiro para evitar a escalada de preços das commodities, foram encaminhadas ao governo brasileiro no início da semana.

Não cabe ao Brasil apresentar itens ao G-20. Mas Rossi prometeu que tocará na questão dos subsídios, assunto que é tão delicado entre países produtores emergentes e desenvolvidos. "Queremos condições de livre competição. O Brasil não vai à casa das pessoas para ofendê-las, mas vai lembrar dos subsídios que, na Europa, são como o homem invisível: ninguém vê."

A proposta de controle vem causando alvoroço. Desde o início do ano, a França sugere que é preciso criar algum tipo de mecanismo que evite a escalada de preços. Tamanha foi a repercussão negativa da ideia que a ministra de Finanças francesa e agora candidata a diretor-gerente do Fundo Monetário Nacional (FMI), Christine Lagarde, teve de ir a público, em fevereiro, para negar a intenção de controle de preços. Até hoje, porém, ninguém consegue explicar o que realmente a França deseja.

Rossi disse ontem que essa proposta ainda não estava muito clara no documento francês. "Pela avaliação, esse é um elemento que conturba mercados e tem efeito especulativo. O que temos de discutir no G-20 é se temos capacidade de agir em relação a esses mercados."

No documento, a França também sugere a formação de um estoque alimentar que poderá ser usado em caráter emergencial em países do Terceiro Mundo durante crises. "Concordamos e vamos participar", adiantou Rossi. O País também deseja, segundo o ministro, mais informações agrícolas dos países produtores. / COLABOROU CÉLIA FROUFE