Título: Papandreou passa hoje por voto de confiança
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2011, Economia, p. B15

Situação do premier grego está cada vez mais difícil e país está à beira de um calote

O primeiro-ministro da Grécia, Georges Papandreou, admitiu ontem ter fracassado na formação de um governo de união nacional e, numa última cartada, anunciou que hoje formará um novo governo.

"Formarei um novo governo e pedirei imediatamente um voto de confiança do Parlamento", disse Papandreou no início da noite. Horas antes, ele disse que poderia renunciar para dar lugar a um governo de união se isso fosse o preço pela aprovação do novo pacote de austeridade.

A oposição, que não aceitou o acordo, quer sua renúncia imediata, no que seria a terceira queda de um governo na Europa resgatado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) desde o início da crise. Portugal e Irlanda já seguiram o mesmo caminho.

Praticamente insolvente, a Grécia precisa da liberação de uma parcela de 12 bilhões pelo FMI para honrar suas dívidas na próxima semana. Mas a entidade já alertou que, sem um novo corte de gastos, não liberará o dinheiro. Hoje, a dívida do país chega a 146% do Produto Interno Bruto (PIB) e analistas já comparam um eventual calote da Grécia a um segundo Lehman Brothers.

Para conseguir a aprovação de um pacote de austeridade no Parlamento, o governo grego sabia que precisaria de um pacto com a oposição. Ontem, depois de horas de negociação e a violência tomando conta das ruas, Atenas admitiu que o esforço havia fracassado e a crise da dívida na Grécia ganhou proporções dramáticas, com efeitos nas bolsas de todo o mundo e ameaçando a frágil estabilidade do euro.

Impasse. Papandreou manteve negociações com o líder da oposição, Antonis Samaras, e chegou a oferecer sua renúncia. O substituto teria de ser alguém que fosse aceito pelos socialistas e pela oposição. Para Samaris, não havia mais lugar para o primeiro-ministro no novo governo. Mas nem a formação de um governo de união nacional teve sucesso. Para a oposição, a nova tentativa de Papandreou não deve funcionar e a única saída será sua saída.

Além disso, querem que a exigência de cortes impostos feita pelo FMI e pela União Europeia seja renegociada.

Para a oposição, são essas medidas de cortes de gastos, demissões e redução de salários que estão impedindo a Grécia de sair da recessão.

Para a UE, o drama na Grécia foi uma demonstração de que a estabilidade do euro e do bloco está ameaçada. Ontem, o Banco Central Europeu (BCE) alertou que um calote grego causaria contágio imediato em todo o continente, com risco de quebrar bancos pela Europa.

"A Grécia está cada vez mais perto da situação do Lehman Brothers", disse um diplomata grego ao Estado. "Quando quebrar, levará meio mundo." Os mais afetados seriam os bancos franceses e alemães, ambos altamente expostos na Grécia.

Moratória. Governos da região, UE e BCE não conseguem fechar um acordo de como poderia ser um novo pacote de resgate aos gregos. A Alemanha defende moratória no pagamento da dívida por sete anos, o que para o BCE seria o equivalente a um calote. O primeiro pacote à Grécia foi de 110 bilhões. Agora se fala em outros 100 bilhões.

Ontem, a crise política, financeira e social foi sentida imediatamente nos mercados. O risco país da Grécia atingiu níveis recordes e investidores abandonaram os papéis gregos. Bolsas nos EUA e Europa caíram. O euro sofreu sua maior queda frente ao dólar desde agosto de 2010 (2%). O barril do petróleo atingiu o ponto mais baixo em quatro meses, com queda de 5%.

Hoje, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, se reunirão para tentar resgatar a Grécia, antes da cúpula da UE na semana que vem.

Mas a França já deixou claro que é contra a proposta alemã.