Título: BRF ganha novo prazo no Cade e deve propor venda de mais ativos e marcas
Autor: Froufe, Célia ; Inhesta, Suzana
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2011, Economia/2, p. B19

Empresa prepara oferta que deve incluir venda de fábricas, centros de distribuição e marcas equivalentes a 20% do seu faturamento

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) adiou ontem, por pelo menos 15 dias, o julgamento da fusão de Sadia e Perdigão, que deu origem à BRF - Brasil Foods. A empresa já começou a preparar uma nova proposta de acordo para o órgão, que deve ser entregue no início da próxima semana. O objetivo é convencer os conselheiros de que o negócio não prejudicará consumidores e a concorrência.

Na quarta-feira da semana passada, o relator do caso, conselheiro Carlos Ragazzo, reprovou a fusão em um dos votos mais duros da história do Cade. Ontem, com o fôlego extra do adiamento, as ações da BRF chegaram a subir 4,7% na máxima, mas fecharam a R$ 24,53, uma alta de apenas 0,2%. Desde que ficou evidente a resistência do Cade à fusão, a empresa já perdeu R$ 6,3 bilhões de valor de mercado.

Segundo fontes próximas às negociações, a BRF prepara uma nova proposta de acordo ao Cade, que prevê a venda de fábricas, canais de distribuição e marcas, que pode representar cerca 20% de seu faturamento. A empresa estaria disposta a colocar na mesa as marcas Batavo e Confiança, além de Wilson, Excelsior e Rezende, que já estavam na oferta anterior.

A proposta é um avanço em relação à que foi rejeitada pelo Cade na semana passada, antes do voto do relator. Naquela oferta, estava previsto apenas o arrendamento de fábricas e o compartilhamento de canais de distribuição. O conselheiro Ricardo Ruiz, que pediu vistas do processo, chegou a chamar a proposta de "institucionalização do cartel".

No entanto, ainda está muito longe de ser algo palatável para o Cade. A oferta da BRF se aproxima agora de um dos "remédios" propostos pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do ministério da Fazenda, que foi considerado insuficiente pela procuradoria do Cade e pelo relator.

Os conselheiros do Cade só tendem a aceitar um acordo que inclua as marcas Sadia ou Perdigão. A BRF não quer abrir mãos das marcas líderes, mas já aceita discutir a possibilidade, até para tentar convencer que não seria necessário. Fontes próximas ao processo disseram que, apesar do adiamento do julgamento, as negociações estão difíceis.

Lição de casa. O conselheiro Ricardo Ruiz adiou o julgamento ontem pela manhã, atendendo a um pedido das empresas, que entregaram uma petição formal. Logo após o almoço, os representantes da Brasil Foods já tiveram reunião com os integrantes do Cade. Nenhuma proposta formal foi apresentada, mas a BRF recebeu como "lição de casa" reler as considerações feitas pelo relator.

O temor de Ragazzo é o de que a união das companhias ponha fim à concorrência existente hoje e dificulte a entrada de rivais no setor. Mais do que isso, o relator mostrou-se preocupado com os reflexos que a operação trará para o consumidor, como a possibilidade de aumento de preços de produtos - de até 40% em alguns casos -, que seria também uma barreira para os novos consumidores das classes C e D.

"É preciso discutir a oportunidade que ficou aberta com o adiamento do julgamento, para encontrar uma solução pacífica", disse o presidente de assuntos corporativos da BRF, Wilson Mello, em Brasília logo após o anúncio de adiamento.

"O momento agora é de ter calma e entender preocupações do Cade", acrescentou. Em nota, mais tarde, a companhia elogiou a "maturidade institucional" do Cade ao dilatar o prazo para negociar. Os conselheiros não quiseram se pronunciar a respeito do processo.

O caso volta para a pauta do Cade no dia 29 de junho. Ruiz ainda tem o direito de adiar o julgamento por mais uma sessão (até 13 de julho). Uma nova prorrogação pode ser dada, mas dependeria de uma decisão de todos os conselheiros que participam do caso.