Título: S&P dá à Grécia a pior nota do mundo
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2011, Economia, p. B9

Agência rebaixa nota de ""B"", ""altamente especulativo"", para ""CCC"", ""extremamente especulativo"", a um passo da classificação de default

O mercado financeiro da Europa passava uma segunda-feira de calmaria quando a notícia mais importante do dia voltou a abalar a confiança dos investidores na capacidade da Grécia de honrar suas obrigações. A agência de rating Standard & Poor""s (S&P) anunciou ontem um novo e brusco rebaixamento da nota dos títulos da dívida soberana grega.

De "B", nível considerado "altamente especulativo", o país agora é classificado como "CCC", "extremamente especulativo", a um passo da classificação de default.

Para a agência o nível de risco dos títulos emitidos pelo governo da Grécia é o pior do mundo, abaixo de países como Paquistão, Granada e Equador. O anúncio se baseia na avaliação de que o risco de reestruturação da dívida grega é cada vez maior. S&P diz ainda que qualquer iniciativa de "partilhar a carga" da dívida com os investidores privados, seja pela troca dos papéis por novas obrigações, seja pela prorrogação de vencimentos - o rollover -, será considerado "default de fato".

Bancos gregos, como o National Bank of Greece, o EFG Eurobank Ergasias e o Piraeus Bank, também devem ter suas notas rebaixadas. A S&P informou ainda que fixou o viés da nota como negativo, e prevê novo rebaixamento entre 12 a 18 meses.

Entretanto, uma nova alteração pode acontecer a qualquer momento, já que o último ocorreu há apenas um mês, em 9 de maio, quando a nota perdera dois níveis, de "BB-" a "B", já sem o grau de investimento. "A degradação reflete nossa opinião de que há um risco ainda mais elevado de um ou de vários defaults", argumentou a agência em comunicado. Em caso de um novo corte de mesma intensidade, a Grécia teria nota "D", a pior possível na classificação da S&P.

Retorno. Outro indício de que novos rebaixamentos tendem a acontecer diz respeito à incapacidade do governo grego de retornar ao mercado financeiro em 2012. Essa previsão havia sido estabelecida pelo primeiro-ministro Georges Papandreou em maio de 2010, quando o país obteve um programa de socorro de ? 110 bilhões . Para a S&P, a Grécia "provavelmente" não poderá retornar a negociar títulos com logo após 2012.

Essa previsão antecipa uma constatação da União Europeia já admitida por líderes políticos: a Grécia precisará de um novo pacote de socorro. Segundo Didier Reynders, ministro de Finanças da Bélgica, as negociações dizem respeito a um novo pacote de "mais de ? 80 bilhões".

O que é negociado agora, com profundas divergências entre Alemanha e um grupo de países liderado pela França, é a extensão da "participação privada".

O governo alemão defende ostensivamente uma reestruturação da dívida, que se daria ao longo de sete anos. O Palácio do Eliseu, entretanto, não aceita esse projeto. Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo e coordenador do Eurogrupo - o fórum de ministros de Finanças da UE -, fala em "reestruturação moderada".

Já o BCE não quer ouvir falar em reestruturação. "Nós devemos evitar tudo o que detonaria um evento de crédito", afirmou ontem Jean-Claude Trichet, presidente do BCE.